domingo, 17 de dezembro de 2017

A bandeira do Estado de São Paulo

Atletas e bandeira do São Paulo em manifestação de 29 de novembro de 1939
Na época, os símbolos estaduais ainda estavam proibidos
Memorial Luiz Cássio dos Santos Werneck

Getúlio Vargas é um nome que causa asco a muitos paulistas, principalmente aos mais antigos. A relação do ex-presidente e ex-ditador com o povo do Estado de São Paulo nunca foi das melhores. Tudo começou com a subida dele ao poder, em 1930, rompendo o "pacto" café com leite (os presidentes do Brasil, até então, eram provenientes de São Paulo ou Minas Gerais, produtores desses artigos) e atingiu o ápice com a Revolta/Revolução Constitucionalista de 1932. 

São Paulo perdeu a guerra (oficialmente foi declarado um "empate", com a assinatura de uma nova constituição, mas sabemos quem ganhou). E cinco anos depois, perdeu também o direito de ostentar os símbolos da própria terra. Bandeira. Brasão. Hino. Lema. Por decreto de Getúlio, com o golpe do Estado Novo, foi organizada até mesmo um evento oficial de queima das insígnias estaduais e municipal. Postas à fogueira mesmo.

Em meio a tudo isso, a Prefeitura de São Paulo avançava nas obras de construção do Estádio Municipal. O Pacaembu ficou pronto e foi inaugurado em 27 de abril de 1940. Na solenidade de abertura houve o tradicional desfile das delegações esportivas e o São Paulo FC tomou parte nesse evento, assim como o próprio Getúlio Vargas, como chefe máximo da nação.

Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube

A comitiva tricolor, ao entrar na pista e ser saudada pelo público, foi, em verdade, ovacionada como nunca visto antes. O presidente, ao ver tamanha reação popular ao desfile são-paulino, teria comentado com asseclas algo como "ao visto, então, esse é o clube mais querido da cidade".

Se Getúlio foi irônico ou não - pois a atitude dos torcedores no Pacaembu, ao aplaudirem o nome e a bandeira do São Paulo como se fossem símbolos do Estado, foi um ataque ao presidente - não sabemos, ficou para a história, porém, a alcunha do Tricolor: o Mais Querido.  

O tempo passou e, em 1945, Getúlio Vargas deixou o poder. No ano seguinte, sob presidência de Gaspar Dutra, o governo brasileiro autorizou novamente o uso dos símbolos estaduais e municipais com a Constituição Nacional promulgada em 18 de setembro de 1946. 

Então, no dia 29 de setembro daquele ano, São Paulo e Corinthians se enfrentaram no Pacaembu. Com gols de Remo e Leônidas, o Tricolor venceu por 2 a 1 e conquistou a Taça dos Invictos (completou 23 jogos do Campeonato Paulista sem perder naquela partida, mas chegou, depois, a 30). 

Na comemoração, depois de quase uma década, a bandeira do Estado de São Paulo voltou a tremular em um evento esportivo da Capital, empunhada por atletas vitoriosos do Tricolor.

O Esporte, de 2 de outubro de 1946. Foto: Glicério.






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