Como nasceu o São Paulo

O São Paulo FC, na sua primeira fase, teve uma duração efêmera. Isso porque, sem o decreto-lei nº 3.199, que passou a regulamentar o desporto brasileiro, muitas coisas aconteciam ao bel prazer dos dirigentes. Decorriam os últimos dias do ano de 1929, quando a situação do futebol paulista sofreu séria transformação. Já estava no seu quarto ano a cisão entre a APEA e a LAF. Nessa altura, a APEA passou a dominar decididamente a situação e forçou um novo movimento pró paz, que resultou totalmente a seu favor. Os melhores aliados do Paulistano, principal sustentáculo da LAF, inclinaram-se pela outra entidade.

Assim precipitava-se o acordo com a passagem do Palmeiras [AA das Palmeiras, n/t], Atlético Santista e outros clubes para a APEA. Esta dava por pacificado o futebol de São Paulo, enquanto que a LAF não iria demorar para ficar dissolvida. Os seus restantes clubes acompanhavam a corrente que reingressou na APEA, enquanto que o Paulistano, sob a presidência do Sr. Antônio Prado Júnior, tomava a grande decisão de abandonar o futebol, declarando que dali para a frente se desinteressaria por completo por esse esporte.

A história do futebol de São Paulo acabava, assim, de encerrar um dos seus mais tristes capítulos. O desfecho de cisão tinha, na verdade, trazido grande alegria na nova união dos clubes e as esperanças; agora revigoradas, de um melhor futuro esportivo.

Conseqüentemente, o desaparecimento do glorioso e tradicional CA Paulistano abria uma lacuna irreparável, pois dentro do esporte brasileiro e alvirrubro era quase que como uma instituição pública.

Por outro lado, sabia-se que o Palmeiras [AA] estava correndo o risco de perder o seu campo da Floresta. A situação era difícil. O São Paulo [sic, Paulistano], de um lado, tinha grandes vultos. Do outro o Palmeiras (que não é o clube dos dias atuais), estava mal. Marcou-se, então, a reunião que faria nascer o São Paulo, como sucessor do Paulistano e do Palmeiras, aproveitando-se as mesmas cores do Paulistano (alvirrubro) e do Palmeiras (alvi-negro). E o primeiro presidente foi o Dr. Edgard de Souza. O Dr. Walter Oliver encarregou-se de desenhar o distintivo do clube, que foi aprovado por todos com alegria.

Faziam parte da primeira diretoria, junto com o Dr. Edgard de Souza, os seguintes elementos: 1º vice: Alberto Caldas; 2º vice: Gastão Tachou; 3º vice: Dr. Benedito Montenegro; 1º secretário: Dr. Luís de Oliveira Barros; 2º Dr. José Martins Costa; 1º tesoureiro: João B. da Cunha Bueno; 2º: Dr. Caio Luís Pereira de Souza.

TORMENTA

A tormenta do São Paulo FC, no entanto, teve início em fins de 1934, por ocasião de nova cisão verificada na APEA. Palestra e Corinthians abandonaram aquela entidade. Em princípios de 1935 a situação piorou ainda mais e o pânico atingiu o São Paulo. O Conselho aprovou uma fusão com o Tietê, o que implicava no desaparecimento do São Paulo. Uma sede - Trocadero - que exigiu grandes gastos, acabou sendo a responsável por este fracasso, pois com uma dívida de 190 contos, os dirigentes ficaram alarmados e aconteceu o inevitável.

Alguns jogadores, porém, tentaram fundar o Independente. A vida dessa agremiação, no entanto, foi curta. Os jogadores que o tricolor possuía passaram-se para o Estudantes, clube fundado pelo Dr. Cássio Vilaça, bem como outros associados do São Paulo. Paralelamente surgia em cena o CA São Paulo. Procurou-se, então, a fusão entre os verdadeiros homens do tricolor, e aos 16 dias do mês de novembro de 1935, era fundado o novo São Paulo FC. É Esta a ata histórica dessa reunião:

- Aos 16 dias do mês de dezembro de 1935, nessa cidade de São Paulo, às 20 horas, numa das salas do prédio 9-A, da Rua XI de Agosto, perante grande número de pessoas interessadas, que atenderam a um convite feito por intermédio da imprensa pela diretoria do Grêmio Tricolor, realizou-se a assembléia que teve por fim fundar o São Paulo FC. Na qualidade de um dos seus diretores do Grêmio Tricolor, presente à reunião, o Sr. Tenente José Porfírio da Paz, depois de expor os motivos da convocação da assembléia, pediu que indicassem um dos presentes àquela reunião, para dirigir os trabalhos. Por unânimidade foi indicado o nome do Sr. Tenente Porfírio da Paz que, assumindo a presidência da mesa, escolheu para seus secretiários os Srs. Éolo Campos e Francisco Pereira Carneiro.

Depois de agradecer a sua indicação, o Sr. Presidente deu conhecimento da ordem dos trabalhos que obedeceu à seguinte ordem do dia: a) leitura, discussão dos estatutos; b) eleição da diretoria; c) admissão de sócios como fundadores; d) isenção de jóias; e) convocação da nova assembléia para eleição do Conselho Deliberativo e Fiscal; f) registro dos estatutos.

Foi assim que acabou sendo eleita a primeira diretoria do São Paulo, a saber: Presidente: Manoel Carmo Meca; 1º vice-presidente: Alcides Borges; 2º vice-presidente: Francisco Pereira Carneiro; 1º secretário: Éolo Campos; 2º secretário: Luís Felipe de Paula Lima; 1º tesoureiro: Manoel de Arruda Nascimento; 2º tesoureiro: Isidoro Novaes; e diretor-geral de esportes: Tenente Porfírio da Paz.

E foi assim o começo desse clube que hoje se projeta como um dos mais realizadores do cenário esportivo paulista, brasileiro, sul-americano e mundial.

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Artigo presente em: Revista Grandes Clubes Brasileiros, de 1971.