São Paulo a liderar o caminho
Por Tim Vickery, jornalista da BBC.
Três anos atrás, depois que foram batidos pelo São Paulo na final do Mundial de Clubes, sites de fãs do Liverpool foram visitados por uma abundância de exultantes brasileiros.
Para a perplexidade dos usuários normais, uma frase popular se destacava, de novo e de novo - "Você não tem de ser um gigante para jogar futebol".
Foi uma tradução do que o lendário locutor Galvão Bueno disse na brasileira TV Globo. O ponto de partida para a sua frase foi o pequeno meio-campista Mineiro - recém contratado pelo Chelsea - que escapou por trás da defesa do Liverpool para marcar o único gol do jogo. Mas ele também foi mais longe.
Tostão, uma lenda da equipe vencedora da Copa do Mundo de 1970 e, atualmente, um dos melhores escritores de futebol do Brasil, uma vez me disse que o futebol "Tem um enorme valor para o povo brasileiro. Eles gostam do jogo em si, e também, da competição. Isso se transforma em algo nacional, algo heróico. As pessoas se sentem vingadas - Vocês podem ser o Primeiro Mundo em outras coisas, mas nós somos o melhor nisto".
Galvão Bueno é um gênio em articular esse tipo de sentimento nacionalista - conforme demonstrado pelo fato de que sua frase foi apanhada por tantos fãs do São Paulo. "Você não tem que ser um gigante para jogar futebol". Disse ele, novamente, durante e ao fim da partida - Foi um insulto direcionado ao Liverpool.
Você pode ter todo o dinheiro e o deslumbre de vencedor de Liga dos Campeões da Europa - ele dizia sobre nossas equipes -, mas ainda os podem trazer a baixo com um solavanco.
Em termos meramente físicos, a frase poderia referir-se a Mineiro. Mas, então como agora, quase não faz qualquer sentido quando utilizada sobre a equipe paulista como um todo.
Assim como em 2005, em 2008 a equipe se caracteriza por grandes e fortes jogadores - três zagueiros gigantes com plena força e poder aéreo em ambas as áreas. É parte de uma fórmula que está a revelar-se coerentemente com êxito.
No domingo, o São Paulo se postou muito perto de ganhar seu terceiro título brasileiro consecutivo. Eles ganharam, escorraçando o Vasco da Gama, por 2-1. Foi um grande resultado; Vasco, em apuros de rebaixamento, tinha enchido seu apertado estádio, um verdadeiro caldeirão em tais condições.
O São Paulo teve o ônibus apedrejado a caminho do campo. A equipe manteve a sua coragem, e venceu, olhando ainda a importante derrota do rival Grêmio. Dois pontos nos dois jogos restantes serão suficientes para garantir que São Paulo se torne o primeiro clube a atingir o total de seis conquistas do campeonato.
Seu estilo de jogo seria algo surpreendente para aqueles que pensam que o futebol brasileiro está no mote de não parar de atacar. Tostão, como escreveu recentemente, diz que as características principais do São Paulo são "marcação, força física, potência no ar e cometer poucos erros".
Em parte, o ethos do São Paulo é uma resposta ao fato de que, nestes dias, os melhores jogadores brasileiros jogam todos no exterior.
Alguns dos jogadores já estão nesse caminho acima. O talentoso meio-campista Hernanes, 23, é claramente um "Europa-bound". O zagueiro clássico Miranda, 24, já sentiu o feitiço da França e vai certamente atravessar o Atlântico novamente antes do tempo. E Jean, 22, revelado nessa campanha.
Todavia, em geral, este é um time experiente - média de idade superior a 27 anos - composto por bons jogadores que não deram muito certo na Europa e outros que nunca receberam essa chance. Em um contexto sem estrelas, o coletivo é rei.
Há tambem o fato de que conceitos, como disciplina e planejamento a longo prazo, são parte do DNA do clube. O São Paulo é conhecido pela excelência de sua estrutura - jogadores brasileiros contundidos, que jogam na europa, freqüentemente optam por utilizar os equipamentos médicos do clube.
Nas décadas de 1950 e 1960, os paulistas ainda tiverem a clarividência de sacrificar fortunas em jogadores e, ao invés disso, investiu os recursos na construção de seu Estádio do Morumbi, um dos maiores campos de propriedade particular do mundo.
A reação do treinador Muricy Ramalho diante da vitória sobre o Vasco foi inteiramente em consonância com a maneira do São Paulo de se fazer as coisas. Não haverá louvores, nem "chicken couting" * (não me arrisco a traduzir, n/t). Os jogadores não farão aparições na TV esta semana.
Trata-se, disse Ramalho, de "um momento decisivo", e a concentração deve ser mantida.
Se o titulo ainda nao está garantido, O São paulo já tem a certeza de seu lugar na Copa Libertadores do próximo ano. Se ganharem e, em seguida, enfrentarem o vencedor da Liga dos Campeões da Europa então - independentemente do que Galvão Bueno puder dizer - vai ser um encontro de dois gigantes.
Por Tim Vickery, jornalista da BBC.
Três anos atrás, depois que foram batidos pelo São Paulo na final do Mundial de Clubes, sites de fãs do Liverpool foram visitados por uma abundância de exultantes brasileiros.
Para a perplexidade dos usuários normais, uma frase popular se destacava, de novo e de novo - "Você não tem de ser um gigante para jogar futebol".
Foi uma tradução do que o lendário locutor Galvão Bueno disse na brasileira TV Globo. O ponto de partida para a sua frase foi o pequeno meio-campista Mineiro - recém contratado pelo Chelsea - que escapou por trás da defesa do Liverpool para marcar o único gol do jogo. Mas ele também foi mais longe.
Tostão, uma lenda da equipe vencedora da Copa do Mundo de 1970 e, atualmente, um dos melhores escritores de futebol do Brasil, uma vez me disse que o futebol "Tem um enorme valor para o povo brasileiro. Eles gostam do jogo em si, e também, da competição. Isso se transforma em algo nacional, algo heróico. As pessoas se sentem vingadas - Vocês podem ser o Primeiro Mundo em outras coisas, mas nós somos o melhor nisto".
Galvão Bueno é um gênio em articular esse tipo de sentimento nacionalista - conforme demonstrado pelo fato de que sua frase foi apanhada por tantos fãs do São Paulo. "Você não tem que ser um gigante para jogar futebol". Disse ele, novamente, durante e ao fim da partida - Foi um insulto direcionado ao Liverpool.
Você pode ter todo o dinheiro e o deslumbre de vencedor de Liga dos Campeões da Europa - ele dizia sobre nossas equipes -, mas ainda os podem trazer a baixo com um solavanco.
Em termos meramente físicos, a frase poderia referir-se a Mineiro. Mas, então como agora, quase não faz qualquer sentido quando utilizada sobre a equipe paulista como um todo.
Assim como em 2005, em 2008 a equipe se caracteriza por grandes e fortes jogadores - três zagueiros gigantes com plena força e poder aéreo em ambas as áreas. É parte de uma fórmula que está a revelar-se coerentemente com êxito.
No domingo, o São Paulo se postou muito perto de ganhar seu terceiro título brasileiro consecutivo. Eles ganharam, escorraçando o Vasco da Gama, por 2-1. Foi um grande resultado; Vasco, em apuros de rebaixamento, tinha enchido seu apertado estádio, um verdadeiro caldeirão em tais condições.
O São Paulo teve o ônibus apedrejado a caminho do campo. A equipe manteve a sua coragem, e venceu, olhando ainda a importante derrota do rival Grêmio. Dois pontos nos dois jogos restantes serão suficientes para garantir que São Paulo se torne o primeiro clube a atingir o total de seis conquistas do campeonato.
Seu estilo de jogo seria algo surpreendente para aqueles que pensam que o futebol brasileiro está no mote de não parar de atacar. Tostão, como escreveu recentemente, diz que as características principais do São Paulo são "marcação, força física, potência no ar e cometer poucos erros".
Em parte, o ethos do São Paulo é uma resposta ao fato de que, nestes dias, os melhores jogadores brasileiros jogam todos no exterior.
Alguns dos jogadores já estão nesse caminho acima. O talentoso meio-campista Hernanes, 23, é claramente um "Europa-bound". O zagueiro clássico Miranda, 24, já sentiu o feitiço da França e vai certamente atravessar o Atlântico novamente antes do tempo. E Jean, 22, revelado nessa campanha.
Todavia, em geral, este é um time experiente - média de idade superior a 27 anos - composto por bons jogadores que não deram muito certo na Europa e outros que nunca receberam essa chance. Em um contexto sem estrelas, o coletivo é rei.
Há tambem o fato de que conceitos, como disciplina e planejamento a longo prazo, são parte do DNA do clube. O São Paulo é conhecido pela excelência de sua estrutura - jogadores brasileiros contundidos, que jogam na europa, freqüentemente optam por utilizar os equipamentos médicos do clube.
Nas décadas de 1950 e 1960, os paulistas ainda tiverem a clarividência de sacrificar fortunas em jogadores e, ao invés disso, investiu os recursos na construção de seu Estádio do Morumbi, um dos maiores campos de propriedade particular do mundo.
A reação do treinador Muricy Ramalho diante da vitória sobre o Vasco foi inteiramente em consonância com a maneira do São Paulo de se fazer as coisas. Não haverá louvores, nem "chicken couting" * (não me arrisco a traduzir, n/t). Os jogadores não farão aparições na TV esta semana.
Trata-se, disse Ramalho, de "um momento decisivo", e a concentração deve ser mantida.
Se o titulo ainda nao está garantido, O São paulo já tem a certeza de seu lugar na Copa Libertadores do próximo ano. Se ganharem e, em seguida, enfrentarem o vencedor da Liga dos Campeões da Europa então - independentemente do que Galvão Bueno puder dizer - vai ser um encontro de dois gigantes.
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Sao Paulo leading the way
Tim Vickery - 24 Nov 08, 12:28 PM
Three years ago, after they were beaten by Sao Paulo in the final of the World Club Championship, Liverpool's fan sites were visited by plenty of gloating Brazilians.
To the puzzlement of the normal users, one phrase kept popping up again and again - 'You don't have to be a giant to play football.'
It was a translation of what legendary match commentator Galvao Bueno had said on Brazil's TV Globo. The starting point for his phrase was little midfielder Mineiro - a recent Chelsea signing - who slipped behind the Liverpool defence to score the only goal of the game. But it also went further.
Tostao, a legend of the 1970s World Cup-winning team and these days Brazil's best football writer, once told me that football "has an enormous value for the Brazilian people. They like it in itself, and also, in competition, it turns into something of the nation, something heroic. The people feel avenged - you might be the First World at other things, but we're the best at this."
Galvao Bueno is a genius at articulating this type of nationalist sentiment - as shown by the fact that his phrase was picked up by so many Sao Paulo fans. "You don't have to be a giant to play football" - he said it over and again during the match - was a taunt aimed at Liverpool.
You might have the money and all the glamour of winning Europe's Champions League, he was saying, but our teams can still bring you down with a bump.
In purely physical terms, the phrase might refer to Mineiro. But, then and now, it hardly makes any sense when used about the Sao Paulo team as a whole.
Just as in 2005, the 2008 team is characterised by big, strong players - three giant centre-backs and plenty of aerial power in both penalty areas. It is part of a formula that is proving consistently successful.
On Sunday, Sao Paulo moved very close to winning their third consecutive Brazilian title. They won 2-1 away to Vasco da Gama. It was a huge result; Vasco, in relegation trouble, had filled their tight stadium, a real cauldron in such conditions.
The Sao Paulo bus was stoned on the way to the ground. The team held its nerve, and the win looked even more important when rivals Gremio were defeated. Two points from the remaining two games will be enough to ensure that Sao Paulo become the first club to reach the total of six championship wins.
Their style of play would surprise those who think that Brazilian football is all about non-stop attack. As Tostao wrote recently, the defining characteristics of Sao Paulo are "marking, physical strength, power in the air and making few mistakes".
In part, the Sao Paulo ethos is a response to the fact that these days the top Brazilian players are all based abroad.
Some of the players are on the way up. Talented midfielder Hernanes, 23, is clearly Europe-bound. Classy defender Miranda, 24, had a spell in France and will surely cross the Atlantic again before long. And midfielder Jean, 22, has been the find of this campaign.
In general, though, this is an experienced side - average age over 27 - made up of good players who didn't quite make the grade in Europe and others who may never receive the call. In a context without stars, the collective is king.
There is also the fact that concepts such as discipline and long term planning are part of the club's DNA. Sao Paulo are known for the excellence of their structure - European-based Brazilians who suffer an injury often choose to use the club's medical facilities.
In the 1950s and 60s Sao Paulo even had the foresight to sacrifice fortunes on the field and instead plough resources into building their Morumbi stadium, one of the largest privately owned grounds in the world.
Coach Muricy Ramalho's reaction to the win over Vasco was entirely in keeping with the Sao Paulo way of doing things. There will be no crowing, and no chicken counting. Players will not be making TV appearances this week.
It is, said Ramalho, "a decisive moment," and concentration needs to be maintained.
If the title is not yet guaranteed, Sao Paulo have made sure of a place in next year's Copa Libertadores. If they win that and then take on the holders of Europe's Champions league then - whatever Galvao Bueno might say - it will be a meeting of two giants.
To the puzzlement of the normal users, one phrase kept popping up again and again - 'You don't have to be a giant to play football.'
It was a translation of what legendary match commentator Galvao Bueno had said on Brazil's TV Globo. The starting point for his phrase was little midfielder Mineiro - a recent Chelsea signing - who slipped behind the Liverpool defence to score the only goal of the game. But it also went further.
Tostao, a legend of the 1970s World Cup-winning team and these days Brazil's best football writer, once told me that football "has an enormous value for the Brazilian people. They like it in itself, and also, in competition, it turns into something of the nation, something heroic. The people feel avenged - you might be the First World at other things, but we're the best at this."
Galvao Bueno is a genius at articulating this type of nationalist sentiment - as shown by the fact that his phrase was picked up by so many Sao Paulo fans. "You don't have to be a giant to play football" - he said it over and again during the match - was a taunt aimed at Liverpool.
You might have the money and all the glamour of winning Europe's Champions League, he was saying, but our teams can still bring you down with a bump.
In purely physical terms, the phrase might refer to Mineiro. But, then and now, it hardly makes any sense when used about the Sao Paulo team as a whole.
Just as in 2005, the 2008 team is characterised by big, strong players - three giant centre-backs and plenty of aerial power in both penalty areas. It is part of a formula that is proving consistently successful.
On Sunday, Sao Paulo moved very close to winning their third consecutive Brazilian title. They won 2-1 away to Vasco da Gama. It was a huge result; Vasco, in relegation trouble, had filled their tight stadium, a real cauldron in such conditions.
The Sao Paulo bus was stoned on the way to the ground. The team held its nerve, and the win looked even more important when rivals Gremio were defeated. Two points from the remaining two games will be enough to ensure that Sao Paulo become the first club to reach the total of six championship wins.
Their style of play would surprise those who think that Brazilian football is all about non-stop attack. As Tostao wrote recently, the defining characteristics of Sao Paulo are "marking, physical strength, power in the air and making few mistakes".
In part, the Sao Paulo ethos is a response to the fact that these days the top Brazilian players are all based abroad.
Some of the players are on the way up. Talented midfielder Hernanes, 23, is clearly Europe-bound. Classy defender Miranda, 24, had a spell in France and will surely cross the Atlantic again before long. And midfielder Jean, 22, has been the find of this campaign.
In general, though, this is an experienced side - average age over 27 - made up of good players who didn't quite make the grade in Europe and others who may never receive the call. In a context without stars, the collective is king.
There is also the fact that concepts such as discipline and long term planning are part of the club's DNA. Sao Paulo are known for the excellence of their structure - European-based Brazilians who suffer an injury often choose to use the club's medical facilities.
In the 1950s and 60s Sao Paulo even had the foresight to sacrifice fortunes on the field and instead plough resources into building their Morumbi stadium, one of the largest privately owned grounds in the world.
Coach Muricy Ramalho's reaction to the win over Vasco was entirely in keeping with the Sao Paulo way of doing things. There will be no crowing, and no chicken counting. Players will not be making TV appearances this week.
It is, said Ramalho, "a decisive moment," and concentration needs to be maintained.
If the title is not yet guaranteed, Sao Paulo have made sure of a place in next year's Copa Libertadores. If they win that and then take on the holders of Europe's Champions league then - whatever Galvao Bueno might say - it will be a meeting of two giants.
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