E claro, o 1º clube de futebol da lista. Abaixo, um texto muito interessante de onde retiro a informação do título...
Fermento
por Oliver Seitz, da Universidade do Futebol. Publicado no Blog do Juca.
O futebol gera mais exposição do que dinheiro. E, talvez por isso, todo mundo ache que vale muito, mas muito dinheiro.
Você não vai gostar do que vai ler. Provavelmente, irá reclamar. Quiçá me enviará um e-mail. Mas alguém tem que dizer. O futebol não é um negócio tão grande quanto você imagina.
Não é. Nunca foi. Provavelmente, nunca será. Alguém, em algum lugar, criou o mito. Provavelmente foi o William MacGregor, um escocês que era dono do Aston Villa e fundou a Football League na metade do século XIX. Ele, em seu livro ‘The book of Football’, escreveu: ‘football is a big business’. A ideia pegou, e todo mundo passou a reproduzir.
Você pode estar pensando que eu sou idiota, o que é justo. Afinal, todo mundo diz que o negócio do futebol é enorme, só que mal explorado. Mas a verdade, infelizmente, é que o futebol é um negócio extremamente supervalorizado. Ele gera mais exposição do que dinheiro. E, talvez por isso, todo mundo ache que vale muito, mas muito dinheiro.
Você conhece a Usina Itaiquara de Açúcar e Álcool S.A.? É provável que não. A não ser que você trabalhe no setor de cana-de-açúcar, ou que compre produtos de panificação, ou que more em Tapiratiba, São Paulo, ou que torça para a Portuguesa, o que eu imagino não serem características do perfil dos poucos que leem essa coluna. De qualquer maneira, a Itaiquara produz energia, produtos pra confeitaria e produtos pra uso doméstico, como açúcar, mistura pra bolo, mistura pra pão de queijo e fermento, que minha mãe sempre disse também ser energia.
Incrivelmente, ou não, a Itaiquara patrocina a Portuguesa, além da Pizza na Roça, supostamente a melhor pizzaria do Brasil, localizada em Caconde, São Paulo. Incrivelmente, também, é que a Itaiquara não está sendo citada aqui por nada disso. A Itaiquara está sendo usada de exemplo porque ela foi a milésima empresa em vendas do Brasil no ano de 2008, de acordo com o índice "Melhores e Maiores" da revista "Exame".
A Itaiquara faturou no an o passado 133,9 milhões de dólares, o que dá cerca de 320 milhões de reais de acordo com a cotação usada pela revista. A milésima empresa do Brasil. Isso quer dizer que outras 999 empresas faturaram mais.
E sabe quanto o São Paulo Futebol Clube, tradicionalmente o clube com maior receita do país, faturou no ano passado? 158 milhões de reais, menos da metade do faturamento da Itaiquara, a milésima empresa do Brasil, que vende produtos de panificação e patrocina a Portuguesa, o que – colocando nessa ordem – até faz sentido. Menos da metade. O maior clube do Brasil.
Não há dúvidas que ele poderia arrecadar mais. Mas quanto mais?
O grosso da grana, quase 40%, vem da venda de jogadores e direitos de televisão, valores que dificilmente podem ser elevados. Adicionando o patrocínio, que está num valor bastante significativo e que dificilmente tem espaço para crescimento, o percentual sobe para quase 50%. Esse valor é de certa forma consolidado e tem pouco espaço para crescimento, por mais bem organizado que o clube seja. De resto, tem valor de ingresso, sócios, premiações, enfim, uma diversidade de coisas. Que até poderiam apresentar também um crescimento, mas nada capaz de fazer dobrar o faturamento do clube para que ele, dessa forma, chegasse próximo à milésima empresa do país.
Na Europa, acredite, também não é diferente. Os clubes de futebol não figuram na lista das maiores empresas de qualquer país. Apesar de ter uma exposição enorme, o negócio do futebol, volto a dizer, não é tão grande assim.
Diminuir as expectativas de geração de receita provenientes do futebol, em especial do Brasil, talvez seja um passo importante para se melhorar as condições atuais. Por isso, por mais decepcionante que possa parecer, é imprescindível que se analise a realidade do jeito que ela é.
E se você é de Itaiquara ou trabalha em um canavial, ou é torcedor da Portuguesa, por favor, me envie um e-mail. Ficaria bastante contente em conhecer as razões pelas quais você lê o que eu escrevo.
Em tempo: caso o São Paulo tivesse enviado o seu balanço para a Exame, ele ficaria na honrosa milésima centésima nonagésima quinta posição, empatado com a Ponte de Pedra, uma hidrelétrica localizada em Itiquira, Mato Grosso, que tem seis funcionários. Se você é de Itiquira, também pode me mandar um e-mail. Se você for um desses seis funcionários, por favor, não mande nada. Seria assustador demais.
por Oliver Seitz, da Universidade do Futebol. Publicado no Blog do Juca.
O futebol gera mais exposição do que dinheiro. E, talvez por isso, todo mundo ache que vale muito, mas muito dinheiro.
Você não vai gostar do que vai ler. Provavelmente, irá reclamar. Quiçá me enviará um e-mail. Mas alguém tem que dizer. O futebol não é um negócio tão grande quanto você imagina.
Não é. Nunca foi. Provavelmente, nunca será. Alguém, em algum lugar, criou o mito. Provavelmente foi o William MacGregor, um escocês que era dono do Aston Villa e fundou a Football League na metade do século XIX. Ele, em seu livro ‘The book of Football’, escreveu: ‘football is a big business’. A ideia pegou, e todo mundo passou a reproduzir.
Você pode estar pensando que eu sou idiota, o que é justo. Afinal, todo mundo diz que o negócio do futebol é enorme, só que mal explorado. Mas a verdade, infelizmente, é que o futebol é um negócio extremamente supervalorizado. Ele gera mais exposição do que dinheiro. E, talvez por isso, todo mundo ache que vale muito, mas muito dinheiro.
Você conhece a Usina Itaiquara de Açúcar e Álcool S.A.? É provável que não. A não ser que você trabalhe no setor de cana-de-açúcar, ou que compre produtos de panificação, ou que more em Tapiratiba, São Paulo, ou que torça para a Portuguesa, o que eu imagino não serem características do perfil dos poucos que leem essa coluna. De qualquer maneira, a Itaiquara produz energia, produtos pra confeitaria e produtos pra uso doméstico, como açúcar, mistura pra bolo, mistura pra pão de queijo e fermento, que minha mãe sempre disse também ser energia.
Incrivelmente, ou não, a Itaiquara patrocina a Portuguesa, além da Pizza na Roça, supostamente a melhor pizzaria do Brasil, localizada em Caconde, São Paulo. Incrivelmente, também, é que a Itaiquara não está sendo citada aqui por nada disso. A Itaiquara está sendo usada de exemplo porque ela foi a milésima empresa em vendas do Brasil no ano de 2008, de acordo com o índice "Melhores e Maiores" da revista "Exame".
A Itaiquara faturou no an o passado 133,9 milhões de dólares, o que dá cerca de 320 milhões de reais de acordo com a cotação usada pela revista. A milésima empresa do Brasil. Isso quer dizer que outras 999 empresas faturaram mais.
E sabe quanto o São Paulo Futebol Clube, tradicionalmente o clube com maior receita do país, faturou no ano passado? 158 milhões de reais, menos da metade do faturamento da Itaiquara, a milésima empresa do Brasil, que vende produtos de panificação e patrocina a Portuguesa, o que – colocando nessa ordem – até faz sentido. Menos da metade. O maior clube do Brasil.
Não há dúvidas que ele poderia arrecadar mais. Mas quanto mais?
O grosso da grana, quase 40%, vem da venda de jogadores e direitos de televisão, valores que dificilmente podem ser elevados. Adicionando o patrocínio, que está num valor bastante significativo e que dificilmente tem espaço para crescimento, o percentual sobe para quase 50%. Esse valor é de certa forma consolidado e tem pouco espaço para crescimento, por mais bem organizado que o clube seja. De resto, tem valor de ingresso, sócios, premiações, enfim, uma diversidade de coisas. Que até poderiam apresentar também um crescimento, mas nada capaz de fazer dobrar o faturamento do clube para que ele, dessa forma, chegasse próximo à milésima empresa do país.
Na Europa, acredite, também não é diferente. Os clubes de futebol não figuram na lista das maiores empresas de qualquer país. Apesar de ter uma exposição enorme, o negócio do futebol, volto a dizer, não é tão grande assim.
Diminuir as expectativas de geração de receita provenientes do futebol, em especial do Brasil, talvez seja um passo importante para se melhorar as condições atuais. Por isso, por mais decepcionante que possa parecer, é imprescindível que se analise a realidade do jeito que ela é.
E se você é de Itaiquara ou trabalha em um canavial, ou é torcedor da Portuguesa, por favor, me envie um e-mail. Ficaria bastante contente em conhecer as razões pelas quais você lê o que eu escrevo.
Em tempo: caso o São Paulo tivesse enviado o seu balanço para a Exame, ele ficaria na honrosa milésima centésima nonagésima quinta posição, empatado com a Ponte de Pedra, uma hidrelétrica localizada em Itiquira, Mato Grosso, que tem seis funcionários. Se você é de Itiquira, também pode me mandar um e-mail. Se você for um desses seis funcionários, por favor, não mande nada. Seria assustador demais.
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