Atletas e bandeira do São Paulo em manifestação de 29 de novembro de 1939
Na época, os símbolos estaduais ainda estavam proibidos
Memorial Luiz Cássio dos Santos Werneck
Na época, os símbolos estaduais ainda estavam proibidos
Memorial Luiz Cássio dos Santos Werneck
Getúlio Vargas é um nome que causa asco a muitos paulistas, principalmente aos mais antigos. A relação do ex-presidente e ex-ditador com o povo do Estado de São Paulo nunca foi das melhores. Tudo começou com a subida dele ao poder, em 1930, rompendo o "pacto" café com leite (os presidentes do Brasil, até então, eram provenientes de São Paulo ou Minas Gerais, produtores desses artigos) e atingiu o ápice com a Revolta/Revolução Constitucionalista de 1932.
São Paulo perdeu a guerra (oficialmente foi declarado um "empate", com a assinatura de uma nova constituição, mas sabemos quem ganhou). E cinco anos depois, perdeu também o direito de ostentar os símbolos da própria terra. Bandeira. Brasão. Hino. Lema. Por decreto de Getúlio, com o golpe do Estado Novo, foi organizada até mesmo um evento oficial de queima das insígnias estaduais e municipal. Postas à fogueira mesmo.
Em meio a tudo isso, a Prefeitura de São Paulo avançava nas obras de construção do Estádio Municipal. O Pacaembu ficou pronto e foi inaugurado em 27 de abril de 1940. Na solenidade de abertura houve o tradicional desfile das delegações esportivas e o São Paulo FC tomou parte nesse evento, assim como o próprio Getúlio Vargas, como chefe máximo da nação.
Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
A comitiva tricolor, ao entrar na pista e ser saudada pelo público, foi, em verdade, ovacionada como nunca visto antes. O presidente, ao ver tamanha reação popular ao desfile são-paulino, teria comentado com asseclas algo como "ao visto, então, esse é o clube mais querido da cidade".
Se Getúlio foi irônico ou não - pois a atitude dos torcedores no Pacaembu, ao aplaudirem o nome e a bandeira do São Paulo como se fossem símbolos do Estado, foi um ataque ao presidente - não sabemos, ficou para a história, porém, a alcunha do Tricolor: o Mais Querido.
O tempo passou e, em 1945, Getúlio Vargas deixou o poder. No ano seguinte, sob presidência de Gaspar Dutra, o governo brasileiro autorizou novamente o uso dos símbolos estaduais e municipais com a Constituição Nacional promulgada em 18 de setembro de 1946.
Então, no dia 29 de setembro daquele ano, São Paulo e Corinthians se enfrentaram no Pacaembu. Com gols de Remo e Leônidas, o Tricolor venceu por 2 a 1 e conquistou a Taça dos Invictos (completou 23 jogos do Campeonato Paulista sem perder naquela partida, mas chegou, depois, a 30).
Na comemoração, depois de quase uma década, a bandeira do Estado de São Paulo voltou a tremular em um evento esportivo da Capital, empunhada por atletas vitoriosos do Tricolor.
O Esporte, de 2 de outubro de 1946. Foto: Glicério.
Boa história!
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