SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE

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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Como eliminar seu chefe

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Não adianta ser campeão do mundo. Quando os jogadores querem, não há tapete que resista. Foi assim que Müller e companhia derrubaram Parreira.

por Amauri Barnabé Segalla, para Revista Placar - Dezembro de 1996.

Demitido pelo presidente do São Paulo, Fernando Casal de Rey, na véspera, o técnico Carlos Alberto Parreira foi recebido friamente pelo elenco são-paulino na tarde de 30 de outubro. Parreira despediu-se da equipe com um discurso de 15 minutos. Elegante, não esclareceu o motivo da saída. Desejou boa sorte a todos e elogiou o time. No final da palestra, cedeu a palavra aos jogadores. Durante um minuto, o pequeno auditório do Centro de Treinamento do clube permaneceu num silêncio constrangedor. É verdade que havia lágrimas nos olhos do goleiro reserva Rogério. O meia Fábio Mello e o zagueiro Capone não escondiam a tristeza. A grande maioria permaneceu indiferente. O serviço estava feito.

Parreira saiu sob pesadas críticas da torcida, da imprensa e sem o respaldo mínimo da diretoria do clube. Seria uma situação absolutamente normal no futebol, se, desta vez, o técnico não tivesse caído porque alguns jogadores assim o quiseram. O grupo de descontentes foi liderado por Müller, magoado com o treinador desde a Copa de 1994, que ele viu do banco de reservas. Ao atacante, somaram-se o zagueiro Válber, o lateral André, o meia Adriano e os atacantes Valdir e Aristizábal.

"Esses seis caras formaram um grupo fechado que não queria Parreira mesmo", afirma um amigo de Müller, que estava no clube quando o treinador foi demitido.

"Ouvi o pessoal dizendo em tom de brincadeira que eles iam fazer um churrasco para comemorar".

Ou seja, durante boa parte do Campeonato Brasileiro, a torcida foi convidada, sem saber, a fazer o papel de trouxa. Em casa ou nos estádios, os tricolores tentavam acreditar na classificação do time, enquanto, no campo, parte dos jogadores estava mais preocupada em ver o técnico pelas costas. Derrubar um técnico do porte de Parreira exige tática especial. Ao contrário do que se imagina, o boleiro raramente entrega o ouro na partida só para o chefão dançar. Dá muito na vista e queima a imagem do jogador. O esquema é mais sutil.

Reclamar do treinador em público foi o primeiro passo. No São Paulo, o lateral-esquerdo André puxou a fila da chiadeira. Parreira mal havia completado um mês no clube e André exigia o seu lugar no time. Recém chegado da Olímpiada, ele não se conformou com o banco que Parreira lhe reservara. "Ele disse que eu estava fora de forma", lembra André. "Isso não se faz". O preparador físico do clube, Moracy Sant'Anna sai em defesa do técnico. "Qualquer jogador que passa um mês sem atuar uma partida perde um pouco do ritmo", diz.

Um ou outro jogador insatisfeito sempre existe num clube. O que se viu no São Paulo foi diferente. A cada dia, surgia uma crise, com um novo atleta reclamando. Válber e Valdir soltavam suas pontadas para os jornalistas. Adriano encarava Parreira com um argumento que lhe parecia irrefutável. "Eu também sou campeão do mundo", disse ao técnico, querendo sua vaga na equipe. Campeão de juniores, é bom ressaltar.

Teve gente entrando de gaiato nessa. Belletti também reclamou e acabou multado. O volante, porém, não fez parte do sexteto que trabalhava pela queda de Parreira. Sua insatisfação só veio a aumentar o clima ruim que já existia. Além das críticas públicas, Müller e companhia recorreram também ao expediente da fofoca. Entre os companheiros, ridicularizavam a paixão de Parreira pelos tapetes persas. A toda hora, repetiam que o São Paulo precisava ter três atacantes (que, não por coincidência, seriam Müller, Valdir e Aristizábal).

"Com o Telê era bem melhor" virou um bordão saudoso do ex-técnico Telê Santana. Dito primeiramente na surdina, logo foi assumido em alto e bom som. Se os críticos tomaram coragem para sair das sombras, a culpa cabe à falta de pulso da diretoria. Em vez de punir a indisciplina com rigor, os cartolas tricolores se embananaram na falta de critério. André e Belletti foram multados, mas Valdir, Adriano e Válber, outros que reclamaram de Parreira, escaparam com os contra-cheques ilesos. Os diretores do clube foram incapazes de mostrar a todos, principalmente aos jogadores, que Parreira era o chefe e que, se havia descontentamento, o caso deveria ser resolvido dentro do clube e não pelso jornais e programas esportivos no rádio. Como não apareceu ninguém para fazer o óbvio, a situação só piorou.

A impunidade atingiu o ápice com a expulsão de Müller no jogo contra o Atlético-PR (veja quadro à página 52). Todos no Morumbi sabiam que o atacante havia provocado o cartão vermelho. Qual a atitude tomada pelos cartolas? A mesma de Parreira: nenhuma. "Foi nessa hora que o pessoal perdeu a confiança no cara", conta um jogador. Por sua vez, Müller convenceu-se de que era intocável no clube.

Apontado como personagem mais influente do Morumbi - afinal, ganhou, no São Paulo, quatro títulos paulistas, dois brasileiros, duas Libertadores e dois mundiais interclubes - , ele tem prestígio há tempos. "Pode ter havido algum problema com Müller nessa história", acredita Telê Santana. "Quando ele deixou o São Paulo, em 1994. achava que era o dono do clube".

Foi de Müller a idéia de desmoralizar Parreira via atrasos. O próprio treinador havia mudado o horário do treino da manhã das 9h para as 9h30. "O pessoal resolveu chegar às 10h", conta o goleiro reserva Rogério. Para explicar o desgaste do relacionamento entre a equipe e o técnico, Rogério tem uma tese. "A maioria dos jogadores quer ser tratada como no Exército", acredita. "O treinador precisa falar palavrão, gritar. Senão os caras não ouvem". Parreira jamais perde a paciência e o seu repertório de impropérios não é maior do que o do Papa.

Quando chegou ao São Paulo, Parreira pensou em escalar dois jogadores como seus líderes dentro do elenco. O primeiro seria Zetti, veterano de outros títulos. Mas o goleiro não assumiu o papel. "Nunca soube que ele queria que eu fizesse essa função", diz Zetti. O outro escolhido foi... Müller. Esses não foram os únicos erros de Parreira em sua breve passagem pelo clube.

Ele não forçou a diretoria a contratar os jogadores que indicou. Parreira pediu Pimentel, Gonçalves, Leandro (do Palmeiras) e Donizete (do Benfica). Aceitou Cláudio, Capone, Nem e Uéslei. O técnico também quis adaptar os jogadores ao seu esquema tático e não o contrário. Müller, por exemplo, foi obrigado a jogar pelo lado direito, o que não fazia desde o início de carreira. Outro pecado, na visão dos jogadores, foi ter ficado indiferente à insatisfação da equipe.

Parreira nunca foi de conversar muito com jogadores. Ao contrário de Telê Santana, que ia atrás da vida particular dos jogadores, Parreira não se preocupava se um atleta estava com namorada nova, ou se tinha comprado carro importado. A comparação com Telê era inevitável para os jogadores. Telê era o chato que queria o time jogando bonito. Chato, Parreira também era. Mas estava atrás de bons resultados - um empatezinho fora de casa, por exemplo. Convalescendo de uma doença cardíaca, Telê não tinha como voltar ao comando do time. Continuar com Parreira não dava. Assim, o grupo dos descontentes voltou a sua atenção para Muricy Ramalho, auxiliar técnico de Telê e do próprio Parreira. Agora, longe do Morumbi, o demitido Parreira garante não acreditar em rebelião. "Nunca houve problemas com jogadores", diz. O fato é que Carlos Alberto Parreira, na sua volta ao Brasil, só precisou de três meses para descobrir que o prestígio de campeão do mundo não vale muita coisa. Não para alguns jogadores do São Paulo.

Queda anunciada
Os principais fatos que marcaram a passagem de Parreira no São Paulo

22 de julho - Parreira assume o São Paulo.
15 de setembro - O São Paulo perde para o Internacional por 1 x 0 e cai da 5ª para a 9ª posição.
17 de setembro - O lateral André é o primeiro a reclamar publicamente de Parreira. Leva multa de 20% do salário como punição.
29 de setembro - O São Paulo perde para o Palmeiras e a insubordinação se alastra. O zagueiro Válber e o volante Belletti entram no time dos descontentes que procura a imprensa para dar recados.
1º de outubro - A diretoria propõe um encontro de Parreira com as torcidas organizadas. Tudo fica na promessa.
5 de outubro - É a vez do atacante Valdir. "Time que só pensa em defender tem mais dificuldade para marcar gols".
9 de outubro - O São Paulo faz 3 x 1 no Atlético Parananese, ainda no primeiro tempo. Durante o intervalo, Parreira pede ao time que recue, para jogar mais no contra-ataque. O atacante Müller se revolta e cava uma expulsão logo no início da etapa final.
Outubro - Müller não é punido e aumenta a sensação de que Parreira perdeu o controle sobre os jogadores. Apenas para provocar, Müller e Válber começam a chegar repetidamente atrasados nos treinos.
26 de outubro - O São Paulo cai ainda mais na tabela ao perder para o Vitória. O meia Adriano sai de campo dizendo que "está tudo errado".
29 de outubro - Parreira é demitido.

Adeus, professor
Aprenda a levar o técnico para a guilhotina

- Critique o técnico em público. Dê entrevistas insinuando que o técnico anterior sabia armar melhor a equipe.
- Junte-se à turma dos descontentes. Demonstre solidariedade ao jogador insatisfeito que está na reserva.
- Provoque cartões amarelos e expulsões.
- Simule contusão ou gripe caso não esteja a fim de viajar para jogar em Miracema do Norte.
- Combine com mais dois ou três jogadores chegar 30 minutos atrasado para o treino.
- Durante o jogo, corra pouco, reclame com todo mundo e erga os braços em protesto quando for substituído. Assim você estará jogando o técnico contra a torcida.
- Ao ser entrevistado depois do jogo, justifique o seu baixo rendimento afirmando estar fora de posição para colaborar com o técnico.
- Em vez de chamar o chefão de "professor", trate-o friamente pelo nome.
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p.s. Essa postagem já estava programada. De forma nenhuma é uma insinuação ou indireta ao presente momento. Não iria alterar meu cronograma por isso.

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