Texto originalmente publicado no dia 10 de outubro de 2017 no site saopaulofc.net.
De Sordi, Poy, Sarará, Riberto, Victor, Mauro e Serrone (roupeiro); Maurinho, Amaury, Gino Orlando, Zizinho e Canhoteiro: os campeões de 1957
Após os cinco campeonatos estaduais conquistados no Pacaembu entre os anos de 1943 e 1949, o Tricolor foi campeão do Paulistão de 1953, na Vila Belmiro (com um 3 a 1 sobre o Santos), às vésperas do quarto centenário da Cidade de São Paulo, no dia 24 de janeiro de 1954. Os paulistanos passaram o aniversário do município a festejar mais uma glória são-paulina.
O Municipal, contudo, só voltou a ver o São Paulo campeão novamente - e pela última vez - em 1957, já com as obras do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, no Morumbi, a pleno andamento. A história desse certame envolve muita rivalidade, brigas, mas também grandes ídolos e belos gols.
De Sordi, Poy, Sarará, Riberto, Victor, Mauro e Serrone (roupeiro); Maurinho, Amaury, Gino Orlando, Zizinho e Canhoteiro: os campeões de 1957
Após os cinco campeonatos estaduais conquistados no Pacaembu entre os anos de 1943 e 1949, o Tricolor foi campeão do Paulistão de 1953, na Vila Belmiro (com um 3 a 1 sobre o Santos), às vésperas do quarto centenário da Cidade de São Paulo, no dia 24 de janeiro de 1954. Os paulistanos passaram o aniversário do município a festejar mais uma glória são-paulina.
O Municipal, contudo, só voltou a ver o São Paulo campeão novamente - e pela última vez - em 1957, já com as obras do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, no Morumbi, a pleno andamento. A história desse certame envolve muita rivalidade, brigas, mas também grandes ídolos e belos gols.
O Pacaembu em um Choque-Rei, nos anos 40 - A Gazeta Esportiva
O Tricolor, depois da infelicidade ocorrida no estadual do ano anterior, onde o time terminou com o vice-campeonato em jogo extra (havia terminado a fase regular empatado com o Santos na primeira posição, tendo perdido apenas uma partida até ali), viu o Campeonato Paulista de 1957 iniciar-se com outro rival disparando na liderança: o Corinthians.
Tudo bem que, como em 1956, o torneio naquela oportunidade tinha um regulamento alternativo, em que a primeira fase não valia muita coisa (eram 20 clubes e o estágio inicial, de turno único, classificava os 10 primeiros para a competição propriamente dita, de dois turnos). Nesse primeiro momento, o Tricolor não foi bem: perdeu logo na estreia para o Botafogo de Ribeirão Preto e até o fim dessa classificatória acumulou derrotas para o Juventus, XV de Piracicaba e Corinthians.
Justamente esse rival terminou a fase inicial arrebatador, com 13 vitórias em 19 jogos, sem nenhuma derrota. O Tricolor passou na quinta colocação (empatado em pontos com o Jabaquara, mas com uma vitória a menos). O elenco são-paulino, comandado pelo revolucionário técnico húngaro, Béla Guttmann, era bom. Mas havia algo, alguma engrenagem a ser completada...
Tudo bem que, como em 1956, o torneio naquela oportunidade tinha um regulamento alternativo, em que a primeira fase não valia muita coisa (eram 20 clubes e o estágio inicial, de turno único, classificava os 10 primeiros para a competição propriamente dita, de dois turnos). Nesse primeiro momento, o Tricolor não foi bem: perdeu logo na estreia para o Botafogo de Ribeirão Preto e até o fim dessa classificatória acumulou derrotas para o Juventus, XV de Piracicaba e Corinthians.
Justamente esse rival terminou a fase inicial arrebatador, com 13 vitórias em 19 jogos, sem nenhuma derrota. O Tricolor passou na quinta colocação (empatado em pontos com o Jabaquara, mas com uma vitória a menos). O elenco são-paulino, comandado pelo revolucionário técnico húngaro, Béla Guttmann, era bom. Mas havia algo, alguma engrenagem a ser completada...
A peça que faltava foi encontrada na figura de Zizinho, veterano craque do Bangu (à época, considerado o terceiro melhor jogador de futebol do Brasil em todos os tempos, somente atrás de Friedenreich e Leônidas, também tricolores), contratado pelo clube com o primeiro turno da fase final já em disputa.
O novo camisa dez estreou no torneio em 10 de novembro, contra o Palmeiras, e o resultado foi imediato: 4 a 2 para o São Paulo. Nos primeiros cinco jogos com ele em campo, o Tricolor não marcou menos de quatro gols por partida (completam a lista um 7 a 1 no XV de Novembro, um 6 a 2 no Santos, um 6 a 2 na Ponte Preta e um 5 a 3 novamente no time de Piracicaba).
Em verdade, com o Mestre Ziza, o São Paulo não voltou a perder no campeonato (foram 10 vitórias e dois empates, até o final). O ataque, formado por Maurinho, Amaury, Gino Orlando, Zizinho e Canhoteiro tornou-se opressor e, aliado ao já forte sistema defensivo de Poy, De Sordi, Mauro e Dino Sani (todos selecionáveis), tornou o Tricolor sério candidato ao título.
O novo camisa dez estreou no torneio em 10 de novembro, contra o Palmeiras, e o resultado foi imediato: 4 a 2 para o São Paulo. Nos primeiros cinco jogos com ele em campo, o Tricolor não marcou menos de quatro gols por partida (completam a lista um 7 a 1 no XV de Novembro, um 6 a 2 no Santos, um 6 a 2 na Ponte Preta e um 5 a 3 novamente no time de Piracicaba).
Em verdade, com o Mestre Ziza, o São Paulo não voltou a perder no campeonato (foram 10 vitórias e dois empates, até o final). O ataque, formado por Maurinho, Amaury, Gino Orlando, Zizinho e Canhoteiro tornou-se opressor e, aliado ao já forte sistema defensivo de Poy, De Sordi, Mauro e Dino Sani (todos selecionáveis), tornou o Tricolor sério candidato ao título.
O problema é que o Corinthians ainda estava disparado na ponta da tabela, e invicto. Para acirrar ainda mais a rivalidade entre as duas equipes, no jogo do primeiro turno da fase final (antes da chegada de Zizinho), terminado empatado em 1 a 1, Alfredo Ramos, ex são-paulino, acabou fraturando a perna em uma dividida com Maurinho. O fim daquele jogo foi de nervos a flor da pele, principalmente para o atacante Gino Orlando e para o corintiano Luisinho, que se estranhavam a todo momento.
No dia seguinte, Gino e outros tricolores foram visitar o antigo companheiro de clube, que estava internado no hospital. Após o encontro, Luisinho, que também fora visitar o colega, mas que resolvera se esconder atrás de uma árvore após ver os são-paulinos, atirou um tijolo à cabeça do centroavante do Tricolor, e fugiu!
No dia seguinte, Gino e outros tricolores foram visitar o antigo companheiro de clube, que estava internado no hospital. Após o encontro, Luisinho, que também fora visitar o colega, mas que resolvera se esconder atrás de uma árvore após ver os são-paulinos, atirou um tijolo à cabeça do centroavante do Tricolor, e fugiu!
Maurinho, Gino Orlando e Zizinho, um trio espetacular - Arquivo Histórico
Quem vencesse seria o campeão; se empatassem, os dois times se juntariam ao Santos (que brevemente ficou na dianteira da pontuação, por um ponto, ao vencer a última partida dele um dia antes) e disputariam um triangular decisivo, então denominado "supercampeonato".
Por haver toda uma carga extra de polêmica e rivalidade posta em campo na partida decisiva, a Federação Paulista ousou e resolveu investir na melhor arbitragem que poderia adquirir. Pagou a quantia mais alta da história do futebol sul-americano até então pelo trio Malcher, Cross e Lynch - estes últimos, britânicos, que apitavam na Argentina. O juiz da partida somente seria escolhido momentos antes de começar a peleja, através de sorteio (os outros dois, tornar-se-iam bandeirinhas do jogo).
No aspecto técnico, o Tricolor talvez estivesse um pouco atrás do oponente na hora H, pois o importantíssimo Dino Sani se contundira e, para piorar, o suplente dele, Ademar, também havia se machucado. Só restava Sarará, que não jogara uma partida sequer no certame até então, para substituí-lo. Detalhe: Sarará estava afastado do elenco por desentendimentos com Béla Guttmann e teve que ser reincorporado nos últimos momentos...
No aspecto técnico, o Tricolor talvez estivesse um pouco atrás do oponente na hora H, pois o importantíssimo Dino Sani se contundira e, para piorar, o suplente dele, Ademar, também havia se machucado. Só restava Sarará, que não jogara uma partida sequer no certame até então, para substituí-lo. Detalhe: Sarará estava afastado do elenco por desentendimentos com Béla Guttmann e teve que ser reincorporado nos últimos momentos...
Foguetório na entrada dos tricolores ao campo / Arquivo Histórico
Com a bola rolando, não deu nem cinco minutos de jogo e o primeiro "arranca-rabo" veio para por à prova o trio de arbitragem do jogo: Gino e Luisinho deixaram os seus recados um na perna do outro, em uma dividida.
Toda forma, talvez por haver menos pressão sobre os são-paulinos, levemente azarões, o Tricolor logo tomou conta do jogo e, assim, aos 17 minutos, forçou a queda do primeiro zero do placar: 1 a 0 com Amaury, que recebeu passe de Gino, avançou pela ponta esquerda e bateu sem chances para o goleiro adversário, encobrindo-o. Uma maestria!
Toda forma, talvez por haver menos pressão sobre os são-paulinos, levemente azarões, o Tricolor logo tomou conta do jogo e, assim, aos 17 minutos, forçou a queda do primeiro zero do placar: 1 a 0 com Amaury, que recebeu passe de Gino, avançou pela ponta esquerda e bateu sem chances para o goleiro adversário, encobrindo-o. Uma maestria!
Desnorteado, o Corinthians tentou ir ao ataque com tudo e por fim a desvantagem. Aberto, foi pego no contra-ataque um minuto depois do primeiro tento são-paulino. Amaury lançou Canhoteiro, que sozinho na ponta esquerda se desvencilhou do marcador, deixando-o sentado no chão, e chutou no canto direito do arqueiro corintiano, que pensava vir dali um cruzamento: 2 a 0!
O golaço de Canhoteiro / Acervo da família
Contudo, a pressão do rival se manteve e, aos 21 minutos, rompeu o cerco tricolor: 2 a 1. O cenário do jogo não se alterou até o final da primeira etapa, com a defesa são-paulina se sustentando firmemente. O segundo tempo foi na mesma toada, sem que, entretanto, aqueles em desvantagem tivesse qualquer chance real de ameaçar o São Paulo, que se defendia, ora com classe, ora como podia, por vezes dando balões para o alto mesmo, pois era jogo de campeonato.
Em um desses bicos pra cima, aos 34 minutos, Zizinho recebeu e dominou a pelota caída dos céus, passou para Gino, que de primeira repassou para Maurinho, mais ao fundo. Muitos ali, depois, reclamaram impedimento, mas o bandeirinha Lynch nada marcou (e toda a imprensa assim aprovou) e a jogada seguiu. O ponta-direita são-paulino ganhou na corrida de Olavo e chegou cara à cara com o goleiro Gilmar.
Maurinho parou e visou o guarda-meta rival. Diz a lenda que, naquele momento, o atacante do Tricolor indagou ao oponente em que canto gostaria que chutasse a bola. Isso mesmo: "Em que canto você quer?".
Sem chance alguma para defesa. Gol do São Paulo! O terceiro do jogo, o que liquidava a partida. Na comemoração, Maurinho deu um tapinha no queixo de Gilmar, apontou e proferiu "Pega lá". Foi a deixa para a maior confusão já vista no Pacaembu até os tristes eventos ocorridos na Supercopa São Paulo de Juniores, de 1995.
Em um desses bicos pra cima, aos 34 minutos, Zizinho recebeu e dominou a pelota caída dos céus, passou para Gino, que de primeira repassou para Maurinho, mais ao fundo. Muitos ali, depois, reclamaram impedimento, mas o bandeirinha Lynch nada marcou (e toda a imprensa assim aprovou) e a jogada seguiu. O ponta-direita são-paulino ganhou na corrida de Olavo e chegou cara à cara com o goleiro Gilmar.
Maurinho parou e visou o guarda-meta rival. Diz a lenda que, naquele momento, o atacante do Tricolor indagou ao oponente em que canto gostaria que chutasse a bola. Isso mesmo: "Em que canto você quer?".
Sem chance alguma para defesa. Gol do São Paulo! O terceiro do jogo, o que liquidava a partida. Na comemoração, Maurinho deu um tapinha no queixo de Gilmar, apontou e proferiu "Pega lá". Foi a deixa para a maior confusão já vista no Pacaembu até os tristes eventos ocorridos na Supercopa São Paulo de Juniores, de 1995.
Socorro a um ferido por garrafa e prisão de meliante que invadiu o campo - A Gazeta Esportiva
Houve, ainda, necessidade de intervenção policial para acalmar os ânimos dos torcedores invadiram o campo e que digladiavam entre si nas gerais do Pacaembu.
A torcida corintiana não soube se comportar, enquanto a são-paulina só fez festa
Quanto ao craque Maurinho, quando questionado pelos repórteres (lembrando que houve transmissão também pela televisão) sobre o lance capital da partida, o atacante afirmou que o goleiro Gilmar dizia para o companheiro Oreco o seguinte: "Oreco, dentro da área não, pois seria pênalti, mas fora da área pode dar pra quebrar as duas pernas deles, que cobrança de falta eu garanto".
A resposta que o ponta-direita do Tricolor encontrou para essas palavras foi a bola do título dentro das redes adversárias.
Justa vitória. E, ah! O Palmeiras ficou em penúltimo - Folha da Manhã
29.12.1957. Campeonato Paulista
São Paulo (SP). Estádio Municipal de São Paulo - Pacaembu
SÃO PAULO Futebol Clube 3 X 1 Sport Club Corinthians Paulista
SPFC: José Poy; De Sordi e Mauro; Sarará, Victor e Riberto; Maurinho, Amaury, Gino Orlando, Zizinho e Canhoteiro. Técnico: Béla Guttman.
Gols: Amaury, 17'/2; Canhoteiro, 19'/2; Maurinho, 34'/2.
SCCP: Gilmar; Olavo e Oreco; Idário, Valmir e Benedito; Cláudio, Luizinho, Índio, Rafael e Zague.
Gol: Rafael, 21'/2.
Árbitro: Alberto da Gama Malcher
Renda: Cr$ 2.409.040,00
Público: 39.670 pagantes
E eu nasci dois dias depois. Só podia ser são-paulino.
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