No dia 2 de outubro de
1960, o são-paulino realizou um grande sonho ao inaugurar o estádio próprio.
O gol de Peixinho e a vitória contra o Sporting de Lisboa coroaram anos de
luta e muito trabalho - que, mal sabiam todos, naquela altura, ainda estava
longe de acabar.
O Estádio Cícero Pompeu
de Toledo se encontra hoje em bairro nobre da capital paulista, mas nem
sempre foi assim. A região foi desenvolvida pelo próprio estádio que,
enquanto era construído, encontrava-se em meio ao nada. O terreno sobre o
qual se ergue o gigante Morumbi foi, até meados dos anos 50, uma área
alagadiça e de mata fechada, do “outro lado” do rio Pinheiros e fora do
núcleo urbano paulistano – em suma, longe de tudo e de todos.
Vista área da região do Morumbi
pré-urbanização / Arquivo Histórico do São Paulo FC
O São Paulo sofreu e teve que procurar muito antes de encontrar o local
ideal para construir um estádio. Não era possível para o clube erguê-lo no
Canindé, onde possuía, à época, sede social e de treinamento. A área, de 70
mil metros quadrados, não suportava um grande empreendimento e, devido ao
projeto municipal de retificação do rio Tietê, o espaço foi reduzido ainda
mais.
O Tricolor até cogitou trocá-lo pelo Ibirapuera (100 mil metros quadrados),
mas a Câmara Municipal da Cidade foi contra a ideia. Pouco tempo depois, em
1954, a Prefeitura inaugurou o Parque no terreno maior, ao lado do
prometido, pelos festejos do quarto centenário do município. Só restou ao
São Paulo seguir em frente: vender o que restou do Canindé e procurar outros
terrenos.
Os dirigentes são-paulinos voltaram a atenção, então, para terrenos da Light,
a companhia energética, às margens do Rio Pinheiros, mas a aquisição também
não se mostrou possível, pois, ao todo, a área só possuía 45 mil metros
quadrados. Enquanto isso, a condessa Mariangela Matarazzo e outros
proprietários se desfizeram de um grande lote de terras na região do
Morumbi. A Imobiliária e Construtora Aricanduva adquiriu a área em 7 de
fevereiro de 1951 e, de pronto, planejou o loteamento comercial.
“... aquisição feita a Condessa Mariângela Matarazzo e outros, conforme escritura lavrada nas notas do 11º Tabelionato da Capital, livro 1.255, fls 1, em 29 de dezembro de 1950, e registrada no Registro de Imóveis da 11a. Circunscrição, sob nº 6.930, livro 4-D, folhas 217, em 7 de fevereiro de 1951, se tornou legitimamente senhora e possuidora de um terreno com a área de dois milhões, duzentos e quarenta e seis mil, duzentos e vinte metros e sessenta e três decímetros quadrados (2.246.220,63ms2.), ora denominado “Jardim Leonor”, situado no bairro do Morumbi, 30º Subdistrito, subdistrito de Santo Amaro, município e Comarca da Capital” (Tabelião Firmo, Livro de Notas 644, pg 50).
Vocabulário
Tupi-Guarani/Português, de Silveira Bueno & Dicionário de Topônimos
Brasileiros, de Luiz Caldas Tibiriçá
Ano de 1813. Em uma região à sudoeste de São Paulo (na verdade, na então
cidade de Santo Amaro), do outro lado do Rio Jurubatuba - antigo nome do Rio
Pinheiros -, era ‘inaugurada’ uma extensa fazenda de chá, com mais de 700
alqueires. Propriedade designada a John Rudge, inglês que desembarcara no
Brasil junto de D. João VI, em 1808. Rudge batizou seu lote com o nome
indígena Morumby. Há controvérsias sobre o significado do termo. Para uns
‘Monte Verde’, para outros ‘Monte Alto’, ou ainda ‘Mosca Verde’.
Após a ativação da Comissão Pró-Estádio – criada em 15 de maio de 1952 e
constituída por Cícero Pompeu de Toledo (presidente), Luiz Cássio dos Santos
Werneck (secretário), Amador Aguiar (tesoureiro), Piragibe Nogueira, Manoel
Raymundo Paes de Almeida, Altino de Castro Lima e Luiz Campos Aranha
(membros), Carlos Alberto Gomes Cardim Filho, Pedro França Pinto, Roberto de
Barros Lima e Oswaldo Athur Bratke (conselho técnico) –, o São Paulo
adquiriu junto a Imobiliária Aricanduva um terreno de 99.873m² na região do
Morumbi, em 4 de agosto de 1952 – o primeiro dos três lotes com ela
negociados e que compõem a propriedade do Tricolor.
Neste terreno estava previsto, de acordo com o projeto de loteamento
original, uma praça pública. O decreto-lei nacional nº 58 de 1937, que
regulamentava loteamentos, afirmava que cabia a Prefeitura tão somente a
aprovação dos lotes (artigo
1º, § 1º e § 4º), conforme planejamento do detentor do terreno. A
Aricanduva buscava divulgar sua propriedade para o público, afinal se
situava em local desconhecido, distante e carente de todas as melhorias da
cidade. Por isso, melhor propaganda que um estádio não havia. Assim, a
empresa alterou o projeto de loteamento original, transformando o espaço
destinado à uma praça na área cedida para a construção do Morumbi, com
anuência da prefeitura.
Cabe dizer que, até o Decreto-Lei 271 de 1967 e o Artigo 22 da Lei 6.766 de
1979, nenhum terreno destinado para vias ou praças públicas era de
propriedade do Município, nem com loteamento aprovado (somente com essas
leis a situação mudou, antes eram do loteador, simplesmente). Ou seja, a
área do Morumbi, com escritura de 1952, nunca foi um terreno público.
Em menos de duas semanas, ainda sem projeto de construção ou de viabilização
financeira, o Tricolor lançou a pedra fundamental do estádio, no dia 15 de
agosto, e também convidou o cardeal são-paulino, Monsenhor Francisco Bastos,
para abençoar aquelas terras. Enfim, chegara o momento de correr atrás de
recursos e levantar o estádio.
No dia 2 de setembro, a primeira reunião da Comissão Pró-Estádio traçou como
plano de aporte inicial a venda de três mil futuras cadeiras cativas, com
título de uso válido por 20 anos e com a operação a cargo da empresa
Cooperária Construções S/A.
Um ano antes, em agosto de 1951, o São Paulo havia conseguido o aval para um
empréstimo de cinco milhões de cruzeiros junto à Caixa Econômica Estadual,
depois de muito solicitar, visto que Corinthians e Palmeiras já o haviam
recebido. Era o momento de usá-lo. Com o montante inicial o São Paulo abriu
concorrência de projetos arquitetônicos e começou o processo de limpeza e
terraplanagem do terreno.
Três escritórios de arquitetura famosos apresentaram projetos para o Estádio
do Morumbi, em 24 de novembro de 1952, ao custo de Cr$ 40 mil cada: A
empresa soviética Antonov & Zolnerkevic, a firma de Gilberto Junqueira
Caldas e o escritório de Vilanova Artigas, Gastão Rachou Jr, José Carlos
Pinto, Carlos Cascaldi e David Ottoni.
O projeto russo era o mais apelativo. Complexo e futurista, com capacidade
de público de 60 mil pessoas e cobertura retrátil de vidro, mais parecia uma
nave espacial (por causa disso, muita gente acreditava que o Morumbi seria
coberto, ainda em 1970). Entretanto a vencedora foi a concepção de Vilanova
Artigas. O principal ponto forte desta foi a capacidade de público: 120 mil
pessoas, originalmente. Artigas era adepto do brutalismo, vanguarda
artística que valorizava o concreto exposto - outro fator preponderante na
escolha: menor custo de manutenção.
O engenheiro e arquiteto João Batista Vilanova Artigas foi um gênio de sua
época. Brutalista, seu estilo peculiar deu origem ao gênero conhecido como
"Escola Paulista". Entre suas principais obras, além do Morumbi, se
encontram o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o
prédio Louveira, em Higienópolis, o Parque CECAP, em Guarulhos e o Hospital
São Lucas, em Curitiba.
A maquete e conceito original de
Artigas para o Morumbi / O Cruzeiro de 10 de abril de 1954
A construção foi orçada, inicialmente, em Cr$ 100 milhões. Preparativos
finalizados, era chegada a hora de arregaçar as mangas e começar a erguer o
colosso de concreto, o maior estádio particular do mundo.
OS PRIMEIROS ALICERCES
As obras que ergueram o Estádio do Morumbi foram iniciadas em 1º de julho de
1953, com o começo da terraplanagem do terreno. Apesar das lei municipais
referentes às bacias hidrográficas, rios e córregos, o São Paulo arcou com
todo o custo da "canalização" do riacho Antonico, que ainda hoje corre sob a
casa tricolor. A Prefeitura em nada se predispôs a ajudar ou ao fazer o que
era cabido a ela por regulamentação.
Até então, a fonte de recursos majoritária era o empréstimo de Cr$ 5.000.000,00 junto à Caixa Econômica Estadual. Pouco depois, Amador Aguiar, dono do Banco Bradesco, intermediou em favor do São Paulo um contrato de direitos exclusivos para a venda de produtos dentro do futuro estádio com a Companhia Antárctica Paulista. A cervejaria concederia Cr$ 5.000.000,00 ao Tricolor por 10 anos de exploração comercial no Morumbi (com opção de prorrogação por mais cinco).
Com fundo em caixa, o São Paulo garantiu os primeiros estágios de seu grande
projeto. Em dezembro de 1953, a terraplanagem foi finalizada, ao custo total
de Cr$ 3.270.396,00 pagos à Cavalcanti Junqueira S/A, com 1.399.428 m³ de
terra transportados. Em 1954, deu-se o estaqueamento e a construção das
fundações do Estádio, com 144 túbulos pneumáticos de suporte de carga para
700 toneladas cada e 3.000 metros de estacas pré-moldadas de concreto armado
que sustentam de 20 a 30 toneladas por unidade. Isso sob o montante de Cr$
12 milhões destinados à Engenharia de Fundações S/A e a Fundações Benachio
Ltda.
Ao mesmo tempo foi assinado o contrato de construção da galeria de águas
pluviais, no valor de Cr$ 2.410.279,00 (com a Civilsan - Engenharia Civil e
Sanitária S/A para canalizar o córrego Antonico). Além desses serviços,
outros foram solicitados com o decorrer das obras. O clube gastou Cr$
11.180,90 em madeira e tábuas (Irmãos Pereira Carneiro & Cia. Ltda.), Cr$
1.040.643,00 em ferro da Matarazzo S. A. Indústria e Comércio e Cr$
956.601,00 pelo mesmo minério com a Evans Importadores S.A. Além de Cr$
15.200,00 em cimento e Cr$ 9.904,00 em pregos e arames.
Para ajudar a custear a aquisição destes materiais, o São Paulo promoveu
campanhas de vendas de souvenires (como o famoso LP Bola no Barbante, em que
Hebe Camargo é um dos destaques) e de doação de cimento - esta famosa,
chegando a mobilizar cidades do interior do Estado. A exploração de
propaganda no canteiro de obras foi outra medida utilizada.
Ainda em 1954, o clube alterou o modelo original de Vilanova Artigas, após
transferência dos direitos de propriedade sobre o projeto. As medidas
tomadas trouxeram um ganho 30% de capacidade de público, passando a
comportar, assim, 156 mil pessoas. O maior estádio particular do mundo, com
sobras. O engenheiro Roberto de Barros Lima passou a chefiar o projeto.
Contudo, a descrença da população mediante ao fato de se "construir um
estádio no meio do mato", aliado à contra campanha de torcedores rivais e
setores da imprensa, forçou o Tricolor a vender 12 mil cadeiras, e torná-las
patrimônio definitivo, além de romper com Cooperária Construções S/A, em
1954, para assinar um novo acordo com a Rádio Bandeirantes e Oswaldo Molles.
Produtor de Rádio e TV, Oswaldo desenvolveu o personagem S.O. (sigla para
Sócio-Olímpico, ou seja, sócio dono de cadeira cativa) que se tornou um
sucesso, aumentando consideravelmente as vendas.
Nesta campanha, as cativas foram vendidas, em média, a Cr$ 20.000,00 cada
(prestações de mil cruzeiros ou 19 mil à vista, ou ainda 22 mil em 44
prestações de 500 cruzeiros). Até sua inauguração, em 1970, o clube vendeu
12.000 cadeiras, representando uma receita aproximada de Cr$ 240.000.000,00,
desconsiderando correções monetárias e a inflação. Somente o ídolo Poy,
verdadeiro garoto propaganda, vendeu pessoalmente oito mil dessas cadeiras.
Jose Poy, argentino de Rosario (14/04/1926), fez de tudo no Tricolor.
Enquanto ainda jogador profissional, ídolo e goleiro do time, vendia
pessoalmente as futuras cadeiras cativas do Estádio, de porta em porta. Como
jogador, Poy foi Campeão Paulista de 48, 49, 53 e 57 e esteve presente na
inauguração do Morumbi. Disputou 525 jogos – o quinto jogador que mais
defendeu o clube. Em 1964, Poy assume o posto de treinador. Ao todo, foram
sete passagens, um título (Paulista 75), o recorde de invencibilidade do
clube em toda a história (47 jogos) e 422 partidas sob seu comando.
Grande chamariz, as cativas foram cruciais não somente para a construção do
Templo, mas também para o modo como fora construído. Preferiu-se erguer o
Morumbi por seções, que compreendiam três níveis de arquibancadas, ao invés
do tradicional "primeiro a camada inferior, depois a superior". Afinal,
quando uma seção fosse finalizada, poderia ser capitalizada em ações de
publicidade e suas cativas entregues a seus donos.
Antes das obras pesadas, de elevação das arquibancadas, as últimas
construções de base foram realizadas. Em 20 de abril de 1955, o sistema de
24.000 m² de drenagem, concebida cientificamente pelo IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas) foi entregue ao preço de Cr$ 4.382.437,00. No
decorrer do ano ainda foram construídos os túneis, o fosso, a rede de
irrigação e a da arquibancada térrea ao custo de Cr$ 6.010.400,00 (Ambas
obras a cargo da Civilsan).
Muitas solenidades marcaram o ano de 1956. Em 24 de janeiro, o Conselho
Deliberativo batizou oficialmente o Morumbi: Estádio Cícero Pompeu de
Toledo, em homenagem ao grande idealizador. No dia seguinte, aniversário do
clube, celebrou-se a Festa do Jequitibá. Nessa cerimônia foi plantada uma
árvore em terra provinda de todos os municípios do Estado, representando
assim a união do povo paulista pelo estádio.
O jequitibá plantado sobre a
terra de todos os municípios do Estado / Acervo Agnelo Di Lorenzo e
Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
Eterno Presidente do São Paulo, Cícero Pompeu de Toledo foi o responsável
pelo início da construção do Estádio do Morumbi. Presidente do clube de 1947
à 1958 (eleito por seis vezes), somente se afastou da função por motivos de
saúde, vindo a falecer em 1959 - não chegou, assim, a ver o sonho concluído.
Por todo o empenho, o Estádio foi batizado com o nome dele em 1956. Um busto
em honra ao dirigente é exposto no Salão Nobre do Clube.
Tudo era motivo de festejo e, claro, de publicidade. Então, em 25 de agosto,
o São Paulo inaugurou o gramado (do tipo Batatais, elaborado pelo engenheiro
Hermes Moreira de Souza, do Instituto Agronômico de Campinas), com festa e
churrasco oferecidos à imprensa. Nessa estreia surgiram as primeiras traves
redondas do Brasil. Foi nessa época que o Tricolor adquiriu o primeiro
trator particular para cuidar da grama. Na verdade, trocaram a máquina pelo
passe de um jogador...
As traves sem quina -
alívio para os jogadores / Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
Já na comemoração do 27º aniversário são-paulino, em 25 de janeiro de 1957, aconteceram as primeiras atividades esportivas oficiais do Morumbi, com destaque ao atletismo. Das 9h às 15h, foram realizadas inúmeras provas de corrida, na pista ainda não finalizada do estádio. Vale destacar a participação do recordista Adhemar Ferreira da Silva, naquela altura atleta do Vasco da Gama, que vestiu mais uma vez a camisa são-paulina como parte das festividades (saltou 15,20 m e venceu!).
Revista Tricolor nº 51
Balanço até 31 de julho de 1956
Em documento da Comissão Pró-Estádio, datado de 23 de agosto de 1956 e assinado por Cícero Pompeu de Toledo, Amador Aguiar e Laudo Natel, é afirmado que até a data de 31 de julho de 1956, o São Paulo havia despendido Cr$ 56.054.599,90 em toda a construção, abaixo enumeradas:
Bens imóveis – Terreno: Cr$ 2.330.094,10
Drenagem, Galeria, Arquibancadas e Outros: Cr$ 24.775.633,00
Fundações, Terraplanagem e Ligações de Blocos: Cr$ 17.226.973,20
Conta do Arquiteto João Vilanova Artigas: Cr$ 1.968.809,10
Maquetes, Projetos, Cartórios, e outras despesas: Cr$ 12.083.184,60
Ao passo que arrecadara Cr$ 58.872.050,20 para a mesma, assim descritos:
Doações: Cr$ 900,00
Cadeiras Cativas: Cr$ 52.029.000,00
Concessão de exploração de bares e propaganda: Cr$ 6.700.000,00
Campanha de Fundos: Cr$ 50.020,00
Juros e Descontos: Cr$ 92.130,20
Restando em caixa e em bancos, então, a quantia de Cr$ 487.356,20.
Ou seja, em sua primeira fase das obras, a conta do Morumbi era positiva, e talvez por isso mesmo o time de futebol do São Paulo se manteve competitivo naquele período, sendo Campeão Paulista de 1953 e 1957.
Respeito ao passado ao se
construir o futuro / Revista Tricolor nº 51
Sillio del Debbio foi o árbitro e as equipes, as seguintes: Paulistas - Narciso, Lamparina e Norival (Argemiro); Caieira, Og e Dino; Pinga II, Lorena, Renato (Badi), Paulo e Álvaro; Cariocas (ou Bangu/Madureira): Alfredo (Nahem); Domingos e Laerte; Laleco, Brito e Mineiro; Mota, Anito, Moacir Bueno, Djalma Canhoto e Pedro Nunes.
Arquivo Histórico do São
Paulo Futebol Clube
Antes, quando se falava do terreno, usava-se mais o termo "do Jardim Leonor", a gleba da qual a área são-paulina foi extraída das posses da Imobiliária Aricanduva. Pelas demarcações do município, entretanto, o lote oficialmente com este nome é nas vizinhanças e o Estádio se sempre se manteve dentro dos limites do Morumbi.
Treino com muitos
espectadores / Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
A ideia de unir o povo paulista em torno do estádio, porém, ainda voltaria à tona, futuramente. O termo "Paulistão" para o carnê lançado em 1968 - como se verá, também um pretenso apelido para o Morumbi - não foi à toa. Muito antes, todavia, campanhas internas tentaram aproximar a população de todo o Estado. A maioria não saiu do papel e das pranchetas publicitárias.
Concepções artísticas nunca
utilizadas (tudo bem que é rascunho, mas nem o escudo acertaram) /
Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
Cabe ressaltar que a quantia em si é ínfima perto do despendido pelo
Tricolor durante todo o processo de construção de seu estádio – como
os números apresentados aqui bem revelam – e que essa ação não teve
validade somente para um único clube, como a lei de 5.066 de 22 de
outubro do mesmo ano revela, ao promulgar o mesmo auxílio ao
Corinthians (sob Decreto nº 3374, de 5 de dezembro de 1956. Em
verdade, todos os clubes grandes da capital foram agraciados por
medidas idênticas, e o São Paulo não foi o primeiro – mas foi o
único a fazer bom uso.
Visando manter os holofotes do povo no estádio, o São Paulo promoveu
uma competição amistosa em junho de 1957, o Torneio
Internacional de Futebol - Copa São Paulo. As partidas do
certame se deram no Pacaembu e no Maracanã. Do estrangeiro foram
convidados a participar o Dinamo Zagreb (então Iugoslávia),
Belenenses (Portugal), Lazio (Itália) e Sevilla (Espanha). Flamengo,
Corinthians e Vasco da Gama (reforçado com santistas) também tomaram
parte, além do Tricolor.
Praticamente um campeonato mundial (como visto em 2000), as equipes foram divididas em dois grupos (Rio de Janeiro e São Paulo), os visitantes internacionais, porém, decepcionaram e não passaram da primeira fase. A fase final entre os clubes brasileiros não chegou a ser concluída, contudo, pelo pouco interesse dos mesmos em manter a competição sem os estrangeiros.
O COLOSSO SE ELEVA
Erguido a partir do atual
setor vermelho / Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
A instalações hidráulicas e elétricas (Sociedade Comercial e Instalador Scil Ltda., Cr$ 1.255.104,60) foram finalizadas em setembro de 1956. As fundações foram concluídas em setembro de 1957, por Cr$ 20.000.000,00. Seis vãos de gigantes (espaços entre as colunas de sustentação) foram terminados em seus três níveis e outros 19 vãos ao redor, até as cativas, em fevereiro de 1957. Até agosto de 1958 todos os níveis foram levantados, mas, somente em março de 1960, finalizados, com o acréscimo de outros cinco vãos. Tudo ao custo de Cr$ 78.681.571,60 (Civilsan).
Com essa configuração, o Morumbi teria sua inauguração parcial. Até lá,
contudo, faltavam outros detalhes: a pista de atletismo, configurada por
Dietrich Gerner, foi inaugurada em 9 de abril de 1960. As rampas de
acesso provisórias e pisos do pavimento térreo foram entregues em 20 de
julho, por módicos Cr$ 7.000.000,00 (Civilsan). Já os bancos das
numeradas e cativas foram instalados por Cr$ 10.600.000,00 (Domingos
Raele & Cia Ltda.). Para pregá-los, Laudo Natel teve que virar garoto
propaganda de uma indústria (Parafusos Marpi S/A) e assim conseguir 400
mil unidades de graça.
Por fim, necessário para separar a torcida do canteiro de obras, o muro
de entorno - com espaço para 47 painéis publicitários -, saiu por Cr$
4.000.000,00 (Santoro & Alves). Triste foi a derrubada do velho
Pinheirinho, retrato do lento avanço das obras. Reza a lenda que a
esposa do presidente Laudo Natel, Maria Zilda, impediu o corte da
árvore, pois nela havia um ninho de passarinho. Passaram-se quase oito
anos até que, enfim, ele fosse derrubado por causa da construção do
muro.
Comissão Pró-Estádio de 30 de abril de 1958: Presidente: Laudo Natel;
Vices-Presidentes: Dr. Piragibe Nogueira; Monsenhor Francisco Bastos e
Dr. Mário Tavares Filho; Secretário: Manoel Raymundo Paes de Almeida;
Tesoureiro: Marcel Klaczko; Demais membros: Altino de Castro Lima,
Amador Aguiar, Dr. Breno Caramuru Teixeira, Dr. Caetano Estelita Pernet,
Dr. Carlos Alberto Gomes Cardim, Dr. Frederico Antônio Germano Menzen,
General José Porphyrio da Paz, Dr. Jovelino Bahia, Júlio Brisola, Luís
Campos Aranha, Dr. Manuel José de Carvalho, Dr. Paulo Machado de
Carvalho, Dr. Paulo Planet Buarque, Dr. Pedro Franca Pinto, Dr. Roberto
Barros Lima e outros.
O segundo lote do terreno do Morumbi (B, abaixo), de 25.936 m², foi adquirido em 13 de julho de 1959, também por doação, junto a Imobiliária Aricanduva, como o acordado nos termos de 12 de novembro de 1952 (Tabelião Firmo, Livro de Notas 644, pg 43). O terceiro e último lote (C), de 29.584 m² foi comparado pelo São Paulo junto aos mesmos proprietários pelo valor de Cr$ 8.875.200,00 em contrato firmado no dia 3 de março de 1965 (Tabelião Firmo, Livro de Notas 644, pg 40V).
Os três lotes do terreno do
Morumbi / Última Hora de 5 de agosto de 1952
Inicialmente, cogitou-se chamar a equipe do Peñarol para a honra do
primeiro jogo no novo estádio. A proposta teria sido levada pelo
presidente da FPF, João Mendonça Filho, junto a uma oferta de 400 mil
cruzeiros (e a promessa do Tricolor enfrentá-los também no Centenário,
posteriormente), quando da ocasião do jogo da Seleção Brasileira contra
a do Uruguai, neste país (9 de julho). Pela falta de tempo disponível
para acertar os detalhes dessa partida, a princípio pensada para o dia
14 de julho, desistiu-se do evento.
Cartaz de divulgação do jogo
/ Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
Antes dos amistosos, porém, o São Paulo Futebol Clube apresentou o estádio oficialmente à imprensa. Cronistas da ACEESP foram convidados, no dia 25 de setembro, a conhecerem os setores de trabalho destes profissionais (cabines de rádio e televisão, tribuna de imprensa e tribuna oficial). Neste evento, inaugurou-se o busto de Cícero Pompeu de Toledo - hoje visto no Salão Nobre Luiz Campos Aranha.
INAUGURAÇÃO DO MAIOR ESTÁDIO PARTICULAR DO MUNDO
O Esporte, 1 de outubro de 1960
O evento teve início com a benção do novo estádio realizada pelo Cardeal
Dom Carlos Carmelo de Vasconcelo Motta e seguiu com o hasteamento das
bandeiras do Brasil e de Portugal sob os acordes dos respectivos hinos
nacionais. A solenidade prosseguiu ao soarem os clarins de Banda da
Força Pública que deu "toque de silêncio" em homenagem póstuma ao
idealizador e grande responsável pela construção do maior estádio
particular do mundo, à época, o saudoso presidente Cícero Pompeu de
Toledo, que nunca chegou a ver sua maior façanha concluída, falecido
antes por grave doença.
O primeiro ingresso / Arquivo
Histórico do São Paulo Futebol Clube
O primeiro gol da história do Morumbi nasceu no 12º minuto e foi assim narrado pela Gazeta Esportiva Ilustrada, daquela quinzena de outubro de 1960: "partindo a ação no flanco esquerdo, com Canhoteiro e Gino. Deste a bola rolou para Fernando Sátyro, isolado nas proximidades da área. O médio preferiu não cerrar, largando passe largo para a direita onde se achava deslocado Jonas, que executou um centro a meia altura. A bola foi encontrar Peixinho na pequena área envolvido por vários adversários. Enquanto estes ficavam na expectativa, o "filho de Peixe" testou baixo para as redes de Anibal".
Peixinho deixando o nome na
história / Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
Poucos lembram se Arnaldo Poffo Garcia ganhou ou não ganhou mais títulos por onde passou, mas todos lembram, claro, do lance que o eternizou. Do gol histórico, o primeiro gol do Morumbi. Tanto que o estilo de gol que realizou naquele dia ficou conhecido desde então, até hoje, como a jogada "peixinho" (pular "de cabeça" em direção a bola, e assim, atirá-la para o gol).
O Morumbi no dia 2 de outubro
de 1960 / Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
Laudo Natel, o sucessor de Cícero Pompeu de Toledo, que levou a cabo a construção do Gigante do Morumbi e que costuma dizer que o Morumbi foi o fruto de fé e perseverança, completou: "O público prestigiou a nossa festa dando-nos a alegria de ver o estádio quase que totalmente lotado. Quero agradecer a são-paulinos, palmeirenses, corintianos, lusos, santistas, enfim, quero agradecer a todos que hoje aqui compareceram. Eles viveram conosco estes grandes momentos da vida do São Paulo e do desporto paulista e brasileiro".
Ademar, Poy, Gildésio,
Fernando Satyro, Riberto, Victor e Serrone (roupeiro); Peixinho,
Jonas, Gino Orlando, Gonçalo e Canhoteiro / Arquivo Histórico do São
Paulo Futebol Clube
São Paulo Futebol Clube 1 x 0 Sporting Club de PortugalSPFC: Poy;
Ademar, Gildésio, Riberto, Fernando Sátyro, Victor, Peixinho, Jonas
(Paulo Lumumba, depois Cláudio Garcia), Gino Orlando, Gonçalo e
Canhoteiro (Roberto Frojuello). Técnico: Flávio Costa
SCP: Aníbal; Lino, Morato, Hilário, Mendes, Júlio, Hugo, Faustino, Figueiredo (Fernando), Diogo (Geo) e Seminário. Técnico: Alfredo Gonzalez
SCP: Aníbal; Lino, Morato, Hilário, Mendes, Júlio, Hugo, Faustino, Figueiredo (Fernando), Diogo (Geo) e Seminário. Técnico: Alfredo Gonzalez
- Gol: Peixinho, 12' do 1º tempo
- Árbitro: Olten Ayres de Abreu
- Renda bruta: Cr$ 7.868.400,00
- Renda líquida: Cr$ 7.779.900,00
- Público pagante: 56.448
- Público presente: 64.748
Friedenreich entre os
homenageados / Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
Os festejos de inauguração do Morumbi duraram uma semana. No domingo
posterior ao debut, o São Paulo promoveu uma série de eventos em
jornada de rodada dupla. Na preliminar, um time formado por veteranos do
Tricolor (composto praticamente por integrantes do famoso Rolo
Compressor, dos anos 40) enfrentou a Seleção Paulista.
Veteranos do São Paulo 0 x 3 Veteranos da Seleção Paulista
SPFC 1º tempo: King (Fernando); Savério e Renato (Castanheira); Herculano Squarza; Azambuja e Hélio Silveira (Hélio Leite); Mendes, Jofre (Américo), Eliseo (Antoninho Campos), Leopoldo e Vignola. 2º tempo: Gijo (Doutor); Piolim (Savério) e Virgílio (Turcão); Jacó, Rui e Noronha; Luizinho, Sastre, Ponce de León (Friaça), Remo e Teixeirinha.
Seleção 1º tempo: Lourenço, Falco, Lorico, Belacosa, Tinoco, Ceci, Levorato, Lima, Neco, Paulo e Agostinho. 2º tempo: Oberdan, Caieira, Lorico, Machado (Luizinho), Og Moreira e Ceci (Beni), Coutinho (Ministro), Lima, Araken, Paulo (Álvaro) e Hércules.
Arquivo Histórico do São
Paulo Futebol Clube
A associação Ases de Rodas, que cuidava de pessoas com necessidade de uso de cadeiras de rodas, também foi homenageada: percorreram o anel de atletismo vestidos com camisas de todos os clubes integrantes da primeira divisão da FPF.
Os três convidados / Álbum de
Inauguração do Morumbi
Julinho Botelho e Djalma Santos, do Palmeiras, Almir Pernambuquinho e Ari (este, ficou somente no banco de reservas), do Corinthians, porém, vestiram o manto e ajudaram o Tricolor a golear os uruguaios por 3 a 0, gols de Canhoteiro e Gino Orlando (duas vezes).
São Paulo Futebol Clube 3 x 0 Club
Nacional de Football
SPFC: José Poy; Djalma Santos, Gildésio (Gérsio) e Riberto; Fernando
Sátyro e Victor; Julinho Botelho, Almir Pernambuquinho, Gino Orlando,
Gonçalo e Canhoteiro.CNF: Sosa; Troche, Di Fábio, Messias (Martinez), Ruben Gonzalez, Collazo, Hector Nuñez (Avalo), Hector Rodrigues (Aloes), Rodrigo, Leopardi e Escalada.
- Gols: Canhoteiro, 24/1; Gino Orlando, 4/2; Gino Orlando, 44/2
- Árbitro: Romualdo Arppi Filho
- Renda bruta: Cr$ 3.099.000,00
- Renda líqüida: Cr$ 3.000.010,00
- Público pagante: 22.954
FÉ E PERSEVERANÇA - POR LONGOS 18 ANOS
Arquivo Histórico do São
Paulo Futebol Clube
Em 1961, o Morumbi se conectou ao resto do mundo. A linha de ônibus
Largo de Pinheiros-Morumbi foi inaugurada em 21 de setembro. Neste ano o
São Paulo ainda desembolsaria Cr$ 46.152.000,00 com a construção de duas
torres de concreto e instalação de cabines e outras instalações
elétricas (Civilsan). Iluminação, contudo, só veio, e de modo
provisório, em 1968. Por fim, construiu mais 6 vãos de arquibancada, ao
valor de Cr$ 114.736.436,00 (Cia Construtora Nacional S/A).
Com o Morumbi a meio caminho andado, a diretoria voltou a atenção para o
patrimônio social. Em 26 de outubro, o Conselho Deliberativo instituiu o
Título Patrimonial, ao custo de Cr$ 100.000,00 a adesão. Logo de cara,
7.500 foram vendidos. O título financiou a construção do parque
aquático, dos vestiários, das instalações hidráulicas, elétricas, de
manutenção e de tratamento de águas, orçada em Cr$ 55.126.486,00 (Civilsan).
Quadras e outros empreendimentos arredondaram a conta para cerca de 100
milhões. O Complexo Social foi inaugurado em 30 de setembro de 1962.
Propaganda dos títulos
patrimoniais / O Estado de São Paulo de 27 de outubro de 1965
Relatórios financeiros da Construção do Estádio do Morumbi até 1961.
As principais despesas da construção do Morumbi, assim descritas:
Anteprojetos de Construção: Cr$ 120.000,00
Projeto e execução de Vilanova Artigas: Cr$ 100.000,00
Terraplanagem: Cr$ 3.270.396,00
Fundações: Cr$ 20.000.000,00
Galeria de águas: Cr$ 2.410.279,00
Sistema de drenagem: Cr$ 4.382.437,00
Túneis, irrigação e outras obras: Cr$ 6.010.400,00
Gigantes 49-55, cativas inferiores 45-49 e 55-70: Cr$ 78.681.571,60
Hidráulica e Elétrica: Cr$ 1.255.104,60
Preparatórios de inauguração: Cr$ 7.000.000,00
Muro de entorno: Cr$ 4.000.000,00
Outros (material de construção, bancos, etc): Cr$ 114.239.424,60
Total: Cr$ 241.469.612,80
Enquanto que as principais fontes de receitas foram as seguintes:
Cadeiras cativas: Cr$ 250.095.750,00
Títulos Patrimoniais: Cr$ 191.438.700,00
Contrato com Companhia Antárctica Paulista: Cr$ 5.000.000,00
Total: Cr$ 446.534.450,00
Em verdade, o valor arrecadado pela Campanha de Títulos Patrimoniais foi investido, também e até 1962, na construção do Complexo Social. Sendo assim, os rendimentos obtidos pela venda de cadeiras cativas (resultado do montante lançado no passivo, no quadro abaixo, subtraída a quantia ainda por receber, no ativo) e pelo contrato de concessão de exploração de bares e lanchonetes com a Companhia Antárctica Paulista – um total de 255.095.750,00 – foram os principais fomentadores da Construção do Estádio do Morumbi, estipulado, até então, em Cr$ 241.469.612,80, conforme também consta no balanço abaixo ilustrado sob o item “Construção da Praça de Esportes”.
O primeiro "busão" que partiu
para o Morumbi / Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
Balanço patrimonial da Comissão Pró-Estádio até 1961
Ativo
Bens Imobilizados
Bens imóveis: Cr$ 9.575.200,00
Móveis e utensílios: Cr$ 1.154.567,50
Construção da Praça de Esportes: Cr$ 241.469.612,80
Total Cr$ 252.199.380,30
Valores Disponíveis
Caixa: Cr$ 1.259.047,50
Bancos: Cr$ 7.792.988,90
Total: Cr$ 9.052.036,40
Créditos da Comissão
Contas correntes devedores: Cr$ 350.687,60
Cadeiras Cativas a Integralizar: Cr$ 28.243.350,00
Títulos Patrimoniais a Integralizar: Cr$ 356.021.300,00
Total: Cr$ 384.615.337,60
Valores em Transição
Obras Contratadas: Cr$ 133.337.300,60
Saldo de exercício: Cr$ 196.730.226,70
Total: Cr$ 330.067.527,30
Final: Cr$ 975.934.281,60
Passivo
Fundo de Garantia
Cadeiras Cativas: Cr$ 279.199.100,00
Títulos Patrimoniais: Cr$ 547.460.000,00
Total: Cr$ 826.659.100,00
Responsabilidades da Comissão
Conta correntes credores (curto prazo): Cr$ 6.899.984,00
Títulos a pagar (longo prazo): Cr$ 109.019.757,60
Hipotecas a pagar (longo prazo): Cr$ 26.995.000,00
Compromissos por compra de terrenos (longo prazo): Cr$ 860.440,00
Total: Cr$ 143.775.181,60
Passivo em Transição
Contas de concessões futuras: Cr$ 5.500.000,00
Final: Cr$ 975.934.281,60
O período que se seguiu foi de grande estagnação. Os recursos
financeiros líquidos rapidamente foram consumidos. Os valores obtidos
pelos títulos patrimoniais e cadeiras cativas eram significativos, mas
obtidos a longo prazo. O reduzido capital foi investido na compra do
último lote do terreno, de 29.584m², junto a Aricanduva, para expansão
do Social. Cr$ 8.875.200,00 pagos em suaves parcelas.
Sem o suficiente em caixa, o Morumbi nada avançou de 1961 a 1968. No
período em que o Tricolor mais se dedicava à areia, pedra e cimento,
contudo, surgiu um ídolo incrível: Roberto Dias. Certa vez, o técnico
são-paulino, Aimoré Moreira, ao ser questionado sobre o que ele
precisaria pra transformar o time em um clube novamente campeão,
respondeu: Dez Dias.
Quadros que atestam: de 1961
a 1968 só um setor construído / Arquivo Histórico do São Paulo
Futebol Clube
Nos anos sem casa...
No tempo sem teto.
Nos anos de
cimento;
chumbo
e concreto.
Dias de paz...
Classe
E Roberto.
O primeiro sistema de refletores
/ Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
Patrono do Tricolor, Laudo Natel foi o homem que tornou o sonho do Morumbi realidade. Moço do interior, cresceu na cidade grande como diretor de banco. Pelo talento administrativo, Cícero Pompeu lhe trouxe ao clube, a princípio como tesoureiro, em 1951. De cara, Natel instituiu a publicação de todos os balanços do clube - feito que ocorre desde 1952 anualmente, em veículos de grande porte. Assim, rapidamente assumiu a presidência do São Paulo, ocupando-a por sete mandatos, de 1958 à 1971. Em 1970, após 18 anos de obras e sacrifícios, Laudo entregou aos são-paulinos o maior patrimônio. Para coroar, ainda mobilhou a casa com grandes ídolos, como Gerson e Pedro Rocha, além de títulos (Paulistas de 1970 e 1971).
Na época da inauguração:
ninguém nas vizinhanças / Arquivo Histórico do São Paulo Futebol
Clube
O nome Paulistão foi uma tentativa de se apelidar o Estádio Cícero
Pompeu de Toledo como simbolo de toda a população do Estado. Apesar do
sucesso do produto comercial, a alcunha, em si, jamais pegou. Nesse
aspecto, o estádio sempre foi o Morumbi.
Com tiragem inicial de 100.000 unidades, o carnê foi tão bem sucedido
que ganhou outras seis séries, totalizando 700.000 carnês, vendidos a
NCr$ 5,00 (cada qual com 12 prestações no mesmo valor). Outros clubes,
posteriormente, adotaram a mesma prática, inclusive pressionando o São
Paulo a romper sua patente. Os carnês concorrentes não vingaram, e o
Tricolor, então, se comprometeu a repassar-lhes uma quota de seus
ganhos.
Com as finanças em dia (sobrou dinheiro até para contratações de craques como Gérson, Toninho Guerreiro, Pedro Rocha, Forlán...), o que o São Paulo não pôde realizar em oito anos, o fez em dois. Ao custo de NCr$ 6.890.000,00 (Cia Construtora Nacional S/A, Servix Engenharia S/A & Enbasa Engenharia e Comércio S/A)), o estádio enfim foi concluído no dia 20 de dezembro de 1969. Só faltava a festa para a entrega da obra concluída, que aconteceu de 25 de janeiro de 1970.
Anos 70: o bairro ainda é
deserto / Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
SÃO PAULO Futebol Clube 1 x 1 Futebol Clube do PORTO
SPFC: Picasso; Édson Cegonha (Cláudio Deodato), Jurandir, Roberto Dias e Tenente; Lourival e Gérson; Miruca, Zé Roberto (Téia),Toninho Guerreiro (Babá) e Paraná. Técnico: Zezé Moreira
Gols: Miruca, 35’/1.
FCdP: Vaz; Acácio, Valdemar, Vieira Nunes e Sucena; Pavão e Gomes; Chico (Celinho), Pinto (Ronaldo), Rolando e Nóbrega. Técnico: Elek Schwartz.
Gol: Vieira Nunes, 32’/1.
- Árbitro: José Favilli Neto
- Renda: NCr$ 440.258,00
- Público: 107.869 pagantes
Gerson contra o Porto / Arquivo
Histórico do São Paulo Futebol Clube
Realmente, como diz Laudo Natel, a construção do Morumbi foi uma obra de
igreja, realizada com o que se podia, aos poucos, pela venda de ideias,
fazendo jus ao um belo mote: Fé e Perseverança. E já que era um sonho,
que fosse grande! Sempre fazendo o possível primeiro, e o impossível
depois.
Fantástico post, Michael! Muito obrigado por compartilhar com a gente todas essas glórias tricolores. Eu frequentei com meu pai o Morumbi antes dos anéis estarem completos e fomos juntos à inauguração em 1970. Lembro até hoje do orgulho que sentimos. Saudações tricolores!
ResponderExcluirBom dia!!!
ResponderExcluirPrimeiramente quero parabenizá-lo pelo excelente trabalho que realiza no seu blog e no site oficial do São Paulo FC.
Estou escrevendo para informar que a imagem da página 63 do 'E-book - A era de ouro' (postada na matéria: http://www.saopaulofc.net/noticias/noticias/historia/2018/12/12/25-anos-do-bicampeonato-mundial! ) não é um ingresso da decisão.
O jogo tinha tanta relevância que estamparam até nos cartões telefônicos do Japão (somente eventos de grande porte/relevância são estampados nos cartões telefônicos japoneses).
A imagem que está citada no E-book como ingresso, na verdade é um cartão telefônico japonês.
Abraços
Obrigado, arrumarei la! Valeu. =)
ExcluirMichael Serra está merecendo uma homenagem do clube pela originalidade de fazer um "recorte" nas estatísticas, com acerto e honestidade, mas que coloca o Tricolor como Rei dos Clássicos. É verdade que o time em épocas passadas sempre ajudou, não sendo a "nulidade" atual em clássicos.
ResponderExcluirO "recorte" ano a ano é uma novidade que nos coloca em vantagem até mesmo no Majestoso, em que colecionamos dissabores nos números gerais, nas decisões e em todos os estádios.