No TOPO do Mundo
A vitória em Tóquio põe o tricolor no ponto mais alto do futebol mundial e consagra uma geração.
O relógio do Estádio Nacional de Tóquio marcava 12h02 quando o Barcelona deu a saída para a decisão do título mundial interclubes contra o São Paulo. A caminho do estádio Nacional de Tóquio, o ônibus são-paulino ia recebendo gritos de incentivo em cada esquina. "Kudassai, kudassai (boa sorte, boa sorte)", gritavam estudantes em seus sisudos uniformes azul-marinho e bandeiras tricolores nas mãos. Na chegada dos times ao estádio, enquanto o São Paulo era ovacionado com entusiasmo, o Barcelona só ganhou aplausos do comitê de recepção organizado pela Toyota.
Essa inequívoca escolha dos torcedores continuou ao longo da partida. Bastava o time espanhol pegar na bola para buzinas infernais soarem pelo estádio. Os brasileiros, ao contrário, eram aplaudidos. Mas foi o Barcelona que marcou primeiro, com Stoitchkov, logo aos 12 minutos. Até esse momento os dois times apenas se estudavam. Em desvantagem, os são-paulinos passaram a praticar um futebol mais agressivo. Aos 17, Raí enfiou a bola entre as pernas de Bakero e cruzou forte e rasteiro. Palhinha, livre na marca do pênalti, não conseguiu dominar e perdeu a chance. Zubizarreta continuou a trabalhar, como num chute traiçoeiro de Ronaldo Luís. Com muito esforço o goleiro espanhol botou para escanteio.
O empate era uma questão de tempo e calma. Finalmente, aos 27, Müller escapou pela esquerda, deu um drible espetacular em Ferrer e cruzou a meia-altura. Raí, de barriga, completou para as redes.
O Barcelona não alterou sua maneira de jogar. Tocava a bola diabolicamente, tentando atrair o São Paulo. O time brasileiro, porém, não caiu na armadilha. Plantado em seu campo, contragolpeava sempre com perigo, principalmente com Müller. Aos 34, o atacante entrou por trás da defesa espanhola e encobriu Zubizarreta, mas Ferrer salvou em cima da linha. A resposta do Barça veio aos 45. Beguiristain driblou Vítor, Adílson e Zetti e tocou para o gol aberto. O lateral Ronaldo Luís salvou também em cima da linha.
Era um jogo de gigantes. De dois times conscientes, técnicos, procurando pacientemente o momento certo de decidir o título. "A qualidade do São Paulo está em seu conjunto, mas há jogadores, como Raí, que podem decidir uma partida", dizia o líbero Ronald Koeman ao desembarcar em Tóquio dias antes. Foi uma frase profética. Aos 34 do segundo tempo, cobrando com perfeição uma falta a dois metros da grande área, Raí colocava o São Paulo em vantagem. Não tinha mais jeito. E bastou o juiz argentino Juan Carlos Lostau decretar o fim da partida, para dezenas de torcedores e japoneses de rostos pintados de preto, vermelho e branco invadirem o gramado. O rígido esquema de segurança do campo ia para o espaço e os organizadores, atônitos, assistiam a um legítimo carnaval à brasileira no gramado.
A festa continuou no vestiário, percorreu as ruas de Tóquio junto com o ônibus do São Paulo e chegou à temperatura máxima na manhã de terça-feira, 15, quando os novos donos do mundo desembarcaram no Aeroporto Internacional de Cumbica. A partir das 3h da manhã chegaram os primeiros torcedores da Falange Tricolor e, quando o avião aterrisou, às 7, o saguão já estava superlotado por cerca de 5 mil são-paulinos. Bastou surgir a taça para a festa ganhar ares de alegre loucura. O elenco passou, então, a cantar o hino do clube entusiasticamente. Embriagados de emoção e repetindo os gritos de guerra da torcida, os jogadores provaram que o São Paulo é um clube diferenciado. E o melhor time do planeta.
Republicado na Coleção Grandes Reportagens de Placar - São Paulo. Editora Abril - Nov/01.
O relógio do Estádio Nacional de Tóquio marcava 12h02 quando o Barcelona deu a saída para a decisão do título mundial interclubes contra o São Paulo. A caminho do estádio Nacional de Tóquio, o ônibus são-paulino ia recebendo gritos de incentivo em cada esquina. "Kudassai, kudassai (boa sorte, boa sorte)", gritavam estudantes em seus sisudos uniformes azul-marinho e bandeiras tricolores nas mãos. Na chegada dos times ao estádio, enquanto o São Paulo era ovacionado com entusiasmo, o Barcelona só ganhou aplausos do comitê de recepção organizado pela Toyota.
Essa inequívoca escolha dos torcedores continuou ao longo da partida. Bastava o time espanhol pegar na bola para buzinas infernais soarem pelo estádio. Os brasileiros, ao contrário, eram aplaudidos. Mas foi o Barcelona que marcou primeiro, com Stoitchkov, logo aos 12 minutos. Até esse momento os dois times apenas se estudavam. Em desvantagem, os são-paulinos passaram a praticar um futebol mais agressivo. Aos 17, Raí enfiou a bola entre as pernas de Bakero e cruzou forte e rasteiro. Palhinha, livre na marca do pênalti, não conseguiu dominar e perdeu a chance. Zubizarreta continuou a trabalhar, como num chute traiçoeiro de Ronaldo Luís. Com muito esforço o goleiro espanhol botou para escanteio.
O empate era uma questão de tempo e calma. Finalmente, aos 27, Müller escapou pela esquerda, deu um drible espetacular em Ferrer e cruzou a meia-altura. Raí, de barriga, completou para as redes.
O Barcelona não alterou sua maneira de jogar. Tocava a bola diabolicamente, tentando atrair o São Paulo. O time brasileiro, porém, não caiu na armadilha. Plantado em seu campo, contragolpeava sempre com perigo, principalmente com Müller. Aos 34, o atacante entrou por trás da defesa espanhola e encobriu Zubizarreta, mas Ferrer salvou em cima da linha. A resposta do Barça veio aos 45. Beguiristain driblou Vítor, Adílson e Zetti e tocou para o gol aberto. O lateral Ronaldo Luís salvou também em cima da linha.
Era um jogo de gigantes. De dois times conscientes, técnicos, procurando pacientemente o momento certo de decidir o título. "A qualidade do São Paulo está em seu conjunto, mas há jogadores, como Raí, que podem decidir uma partida", dizia o líbero Ronald Koeman ao desembarcar em Tóquio dias antes. Foi uma frase profética. Aos 34 do segundo tempo, cobrando com perfeição uma falta a dois metros da grande área, Raí colocava o São Paulo em vantagem. Não tinha mais jeito. E bastou o juiz argentino Juan Carlos Lostau decretar o fim da partida, para dezenas de torcedores e japoneses de rostos pintados de preto, vermelho e branco invadirem o gramado. O rígido esquema de segurança do campo ia para o espaço e os organizadores, atônitos, assistiam a um legítimo carnaval à brasileira no gramado.
A festa continuou no vestiário, percorreu as ruas de Tóquio junto com o ônibus do São Paulo e chegou à temperatura máxima na manhã de terça-feira, 15, quando os novos donos do mundo desembarcaram no Aeroporto Internacional de Cumbica. A partir das 3h da manhã chegaram os primeiros torcedores da Falange Tricolor e, quando o avião aterrisou, às 7, o saguão já estava superlotado por cerca de 5 mil são-paulinos. Bastou surgir a taça para a festa ganhar ares de alegre loucura. O elenco passou, então, a cantar o hino do clube entusiasticamente. Embriagados de emoção e repetindo os gritos de guerra da torcida, os jogadores provaram que o São Paulo é um clube diferenciado. E o melhor time do planeta.
Republicado na Coleção Grandes Reportagens de Placar - São Paulo. Editora Abril - Nov/01.
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